Se Biden vencer, pressão na área ambiental ficará mais forte

Segundo o pesquisador da Unicamp Victor Young, caso Brasil não mude política ambiental, entrada de investimentos pode ficar ainda mais prejudicada sob democratas.

Entrevista com Victor Young

Caso se confirme a vitória do democrata Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos, como apontam as pesquisas junto ao eleitorado norte-americano, a pressão sobre o governo Jair Bolsonaro na área ambiental se tornará muito mais intensa. A avaliação é do pesquisador doutor Victor Young, do Centro de Relações Econômicas Internacionais da Unicamp, que participou de live do Portal Vermelho nesta sexta-feira (23) sobre as eleições nos EUA e os possíveis impactos para o Brasil.

No primeiro debate entre Biden e o candidato do Partido Republicano, Donald Trump, o democrata citou explicitamente a floresta tropical brasileira. Ele propôs uma ajuda de US$ 20 bilhões para combater a destruição ambiental e disse que haverá consequências econômicas caso o Brasil não o faça. Segundo Victor Young, o Brasil ameaçado de sanções é um fato inédito na história do país.

“É inimaginável isso. Alguns anos atrás, jamais imaginaríamos que o Brasil poderia estar sujeito a algum tipo de sanção, como se fosse um país pária nas relações internacionais. Sempre foi um país respeitado, de mediação de conflitos, que atuou no sentido do multilateralismo e do diálogo. E agora é um país que está na parede, foi colocado nas cordas por vários outros países”, comentou.

Segundo Young, a situação pode tornar-se ainda mais dramática se Joe Biden sair vitorioso das urnas. “Se o Biden for eleito, vai se juntar a esse pessoal e aí sim haverá uma pressão muito maior sobre o Brasil, podendo ter consequências para a entrada de investimentos no país. Nós já tivemos uma saída grande de capitais do Brasil. Capitais que poderiam estar entrando não estão. E, se houver os Estados Unidos fazendo sanções, ainda menos capitais poderão entrar no país”, afirmou.

Ele comentou ainda a atuação dos candidatos no segundo e último debate das eleições (deveria ter havido mais um encontro, mas foi cancelado após Trump contrair o novo coronavírus). Para o pesquisador, Biden se saiu bem, apesar do perfil menos carismático. Donald Trump, para quem o desempenho era mais importante, já que está atrás nas pesquisas, não conseguiu uma vitória clara sobre o adversário neste último momento para falar a uma grande audiência. O republicano moderou o tom após sua postura no primeiro debate ser considerada demasiadamente agressiva.

“Eu considero que realmente ele [Trump] não conseguiu promover uma virada com esse debate. Era um tanto previsto isso. O Biden não é um político de muitas polêmicas para ser atacado, como seria por exemplo a Hillary, que foi ministra da Defesa [ela ocupou cargo com atribuições análogas, de secretária de Estado], teve que se envolver com questões espinhosas, teve um marido [o ex-presidente Bill Clinton] que teve uma gestão com uma série de polêmicas”, afirmou.

Young acredita, ainda, que houve mudanças em relação a 2016, quando os institutos de pesquisa apostavam em uma vitória de Hillary Clinton, previsão que se revelou equivocada. Desde então, os pesquisadores afirmam ter ajustado a metodologia para captar eleitores que antes estavam invisíveis.

“A primeira coisa é que os próprios americanos já tiveram uma experiência de quatro anos com o Trump. Eles estão mais informados. Se gostaram ou não, vão ter que decidir agora. O Biden é sujeito a menos controvérsias que a Hillary. Há uma mobilização maior no sentido de evitar uma reeleição do Trump por parte dos democratas. Mesmo assim, nada é garantido. Nas pesquisas anteriores, eles [institutos] não consideraram cidadãos que não tinham por tradição participar da eleição, geralmente no meio-oeste, que foram mobilizados na época da primeira eleição de Trump.”

Confira o bate-papo completo:

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