Sanitarista Hésio Cordeiro morre deixando legado pela saúde pública

O médico sanitarista morreu no domingo, aos 78 anos, como um dos defensores da criação do SUS, ainda durante a ditadura militar

Hésio Cordeiro sempre lutou pelo direito à saúde dos brasileiros

Faleceu neste domingo (8), o médico sanitarista Hésio de Albuquerque Cordeiro. Com pesar, a Reitoria da UFRJ lamentou a morte de um dos grandes nomes da ciência no Brasil, um de seus reitores da Uerj (1992-1995), o qual sempre lutou pelo direito à saúde dos brasileiros. Portador de uma doença degenerativa, ele faleceu aos 78 anos e não deixou filhos.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foi uma das muitas personalidades a lamentar o falecimento do sanitarista.

Hesio foi um dos formuladores da proposta de criação de um “sistema universal de saúde” no Brasil e ajudou a fundar o SUS. A luta de Hesio Cordeiro por uma saúde gratuita e universal no Brasil começou durante a ditadura militar.

Em 1971, o médico liderou um pequeno grupo de médicos e sanitaristas progressistas que fundou o Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Além de ser o primeiro programa de pesquisa sobre saúde pública no país, o IMS formulou as bases para que a Constituição de 1988 criasse o Sistema Único de Saúde (SUS).

Hesio foi um dos que propôs a criação do SUS muito antes de sua fundação, quando, em 1976, escreveu com os colegas José Luís Fiori e Reinaldo Guimarães a carta “A questão democrática na área da saúde”.

Considerado um manifesto em defesa da saúde pública, o documento apontava a política de privatização da saúde promovida pelos militares como causa do crescimento de doenças antigas e da mortalidade infantil no Brasil. A gestão dos militares no setor foi classificada por Hesio como “uma política governamental privatizante, concentradora e anti-popular”.

Ao final do documento, os três sanitaristas propunham bases para se criar um sistema único de saúde que deveria ser responsabilidade do Estado.

“Transformem os atos médicos lucrativos em um bem social gratuito à disposição de toda a população” – trecho do manifesto “A questão democrática na área da saúde” (1976).

Trajetória pela saúde dos brasileiros

Na década de 1960, Cordeiro realizou cursos e visitas técnicas às escolas de medicina preventiva estadunidenses e se tornou um dos grandes debatedores para o fortalecimento do campo da Saúde Coletiva em nosso país. Hésio Cordeiro era defensor do Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira e adotava o preceito de que a saúde é um dever do Estado, em caráter universal e integral, para a toda a população, base do capítulo sobre saúde da Constituição Federal de 1988.

Ele foi responsável pela formação de diversos sanitaristas nas instituições por onde passou, como o Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), do qual foi criador, ou como professor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), da qual recebeu o título de doutor honoris causa.

Hésio de Albuquerque Cordeiro nasceu em 21/5/1942, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Graduou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da então Universidade do Estado da Guanabara no ano de 1965. Fez mestrado na mesma instituição, em 1978, e doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp), em 1981.

Entre os anos de 1983 e 1985, Cordeiro presidiu a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). Ele integrou o Grupo de Trabalho para o Programa de Saúde da Coordenação do Plano de Ação do governo do presidente Tancredo Neves para ampliação e organização do sistema de saúde brasileiro. Hesio trabalhou também como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), atuando em diversos países. Ele também foi presidente, de 1985 a 1988, do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps).

Em 1992, Hésio Cordeiro foi eleito reitor da Uerj, estando à frente da Universidade até 1995. No ano seguinte, se aposentou pelo IMS/Uerj e tornou-se coordenador de saúde da Fundação Cesgranrio e assessor técnico do Ministério da Saúde para o Programa de Saúde da Família. Em 1999, foi secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro. De 2000 a 2006, dirigiu o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estácio de Sá, na qual também foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família. A última contribuição na vida pública do país ocorreu entre 2007 e 2010 como diretor de gestão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Entre 1971 e 1978, ele trabalhou como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), agência da Organização Mundial da Saúde (OMS), sem se desligar do IMS/UERJ.

Durante o governo de Tancredo Neves, integrou um grupo de trabalho para ampliação e organização do sistema de saúde do país.

“Hesio Cordeiro tem sua trajetória entrelaçada à própria história do movimento sanitário do país e dos acontecimentos mais marcantes da saúde, nos últimos 45 anos. Da mesma forma, sua atuação como reitor da Uerj entre 1992 e 1995 constitui um marco, ao promover a capacitação docente e estabelecer as bases para o crescimento da Universidade como instituição dedicada não apenas ao ensino de graduação, mas também à pós-graduação, à extensão e à pesquisa científica”, afirmou a Uerj, em nota de pesar que se soma a inúmeras outras de diversas entidades acadêmicas e sanitárias.

O ex-Ministro da Saúde do Governo Lula, José Gomes Temporão, que foi aluno de Hesio na Uerj, também lembrou a importância do trabalho do sanitarista.

“Hesio Cordeiro é um dos gigantes da saúde pública brasileira. Foi meu mestre, orientador do meu mestrado e amigo. Trabalhei com ele no Inamps na Nova República, período em que Hesio teve um papel central na estruturação do SUS […] Sem Hesio não teríamos o SUS e o direito à saúde inscritos na nossa Constituição”, disse Temporão.

Hesio Cordeiro também foi diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS) de 2007 a 2010 e, em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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