Efeito Bolsonaro: eleitores rejeitam candidatos policiais e militares

Postulantes a prefeito associados às polícias ou às Forças Armadas patinam nas pesquisas

A vitória de Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018 motivou o lançamento de diversos candidatos associados às polícias ou às Forças Armadas neste ano. Mas o desgaste do bolsonarismo e os elevados índices de rejeição do presidente em grandes centros têm afundado essas candidaturas. Conforme levantamento do Valor Econômico, postulantes a prefeito que se apresentam nas capitais como policiais, delegados, sargentos, coronéis e outras distinções do gênero patinam nas pesquisas.

Em 16 capitais, há candidatos a prefeito ligados às forças de segurança. Nessas cidades, é possível identificar 24 candidatos da “família” de policiais ou militares. A vinculação é mais visível nos nomes escolhidos para constar nas urnas eletrônicas. Na disputa pelo comando de Vitória, por exemplo, concorrem um coronel, um capitão e um delegado. Em Natal há dois coronéis e um delegado. Com exceção do candidato Capitão Wagner (Pros) em Fortaleza, porém, nenhum aparece liderando a disputa ou em empate técnico com o primeiro colocado.

Mesmo Capitão Wagner enfrenta dificuldades. Enquanto oscila para baixo nas pesquisas, acompanha o crescimento acelerado de Sarto Nogueira (PDT), candidato apoiado pelo grupo político liderado pelo ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes.

Levantamento de 21 de outubro do Ibope em Aracaju mostrava Delegada Danielle (Cidadania) em segundo lugar com 19%. Mas ela estava 15 pontos atrás do líder Edvaldo (PDT). No Rio, no Recife e em Vitória, Delegada Martha Rocha (PDT), Delegada Patrícia (Podemos) e Delegado Pozelini (Republicanos), respectivamente, lutam para subir à segunda posição e uma vaga no segundo turno. Nas outras capitais, nomes associados às forças de segurança parecem pouco competitivos.

Considerando candidatos a prefeito, vice e vereador, o número de “fardados” disputando as eleições em capitais saltou de 576 em 2016 para 882 agora – um crescimento de 53%. Nesta conta estão os candidatos que, no formulário de inscrição, assinalaram policial militar, policial civil, militar reformado, bombeiro militar ou membro das Forças Armadas no campo “ocupação”. O número total exato de “candidatos de fardados” nas duas disputas, porém, não é preciso.

Nos dois casos (2016 e 2020), tendem a ser ligeiramente maiores. Isso porque alguns preferem assinalar informações mais genéricas na ficha, como servidor público estadual ou federal, aposentado ou vereador candidato à reeleição, o que dificulta a identificação da carreira original.

A tendência de proliferação dessas candidaturas, de qualquer forma, parece ser um fenômeno restrito às maiores cidades do país, notadamente nas capitais. No conjunto dos 5.568 municípios brasileiros, o total de candidatos ligados às forças de segurança cresceu pouco na comparação com a eleição passada.

Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), eram 7.041 quatro anos atrás, são 7.258 agora. Como o número global de candidaturas cresceu fortemente neste ano (de 497 mil para 551 mil), a participação proporcional de policiais e militares na eleição recuou de 1,4% para 1,3% do total.

Diretor-presidente do FNSP, Renato Sérgio de Lima lembra que esses totais são coerentes com o contingente estimado de quase 6 milhões de policiais e militares na ativa e na reserva em todo o país. “É esse público que esses 7 mil candidatos estão disputando entre si. Considerando o tamanho médio das famílias brasileiras, trata-se de um eleitorado de aproximadamente 18 milhões de pessoas”, diz.

Para ele, um dos fatores que limitam a competitividade de candidaturas de policiais e militares é o discurso típico da categoria. “Esses candidatos em geral não fazem debate sobre segurança e violência. Eles só operam no discurso da ordem. É outra chave.”

Com informações do Valor Econômico

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