Eleições têm rearranjo da esquerda e alçam direita não-bolsonarista

Para Oswaldo Amaral, professor de Ciência Política da Unicamp, cenário aponta para menor protagonismo do PT e aumento da dependência de Bolsonaro do Congresso.

Após a apuração dos votos do primeiro turno das eleições municipais, Oswaldo Amaral, professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia que há um fortalecimento de partidos da direita não-bolsonarista e um rearranjo de forças da esquerda.

Diferentemente de alguns analistas, ele não vê o PT como perdedor das eleições, apesar de o partido ter diminuído em 65 seu número de prefeituras em relação a 2016, de 254 para 189. “Eu não diria que o PT perdeu as eleições porque a quantidade de prefeituras e vereadores foi mais ou menos parecida com a de 2016 e o partido ainda disputa 15 cidades no segundo turno”, destaca.

Ele lembra, ainda, que o partido pode ganhar em cidades importantes, como Recife, capital pernambucana, onde a petista Marília Arraes disputará o segundo turno contra o primo, João Campos (PSB). “O PT não ganhou [as eleições], mas também não perdeu”, afirma o especialista.

Para Oswaldo, está acontecendo um rearranjo do campo da esquerda em que o PT tem menos protagonismo. O indicativo disso estaria na ausência do partido em cidades importantes, como São Paulo, por exemplo, onde sempre disputava o segundo turno.

Na capital paulista, a candidatura do petista Jilmar Tatto não decolou e quem acabou indo para o segundo turno foi Guilherme Boulos (PSOL). Além disso, diz o professor, diversas candidaturas de outros partidos do campo progressista conquistaram vagas nas câmaras municipais. “Acho que está havendo um rearranjo na esquerda que coloca o PT em uma situação de ser menos predominante do que era. O partido vai ter que negociar mais”, resume.

Do lado direito do espectro político, os partidos mais beneficiados no pleito municipal pertencem ao chamado centrão. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o DEM, que ganhou 458 prefeituras, 190 a mais do que em 2016, teve um crescimento de 70,9%. O PP foi o segundo partido que mais cresceu, somando agora 672 prefeituras, 177 ou 35,8% a mais do que há quatro anos. Por fim, o PSD passou de 539 prefeituras, em 2016, para 640 em 2020, crescimento de 18,7%.

Na avaliação de Oswaldo Amaral, isso sinaliza que Jair Bolsonaro (sem partido) deve se tornar ainda mais dependente do Congresso Nacional, onde essas siglas formam um bloco poderoso.

O cientista político considera que a estratégia do presidente da República para as eleições municipais (se é que houve uma) não foi a mais acertada, a começar pelo fato de ter rachado e abandonado o partido pelo qual se elegeu, o PSL, que sai praticamente nanico do pleito de 2020.

“Do ponto de vista de disputa de poder, é uma estratégia ruim. Ele tinha um partido, o PSL. Rompe com PSL, não consegue fundar o próprio partido”, comenta.

Como resultado, os políticos do campo bolsonarista chegaram pulverizados às eleições municipais, divididos entre diversos partidos, sem que o presidente e seus aliados tivessem fortalecido nomes e construído apoios para garantir o comando das principais cidades do país.

Faltando apenas duas semanas para o primeiro turno, o presidente começou a anunciar os nomes de candidatos que apoiava em suas redes sociais, e participou de lives com alguns. Não deu muito certo. Dos 13 candidatos apoiados por ele, nove não se elegeram.

Segundo Oswaldo Amaral, Bolsonaro tem dificuldade para conviver dentro de uma estrutura partidária devido ao seu perfil centralizador. “Ele não quer ter que negociar”, afirma.

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