Nove evidências de que o bolsonarismo fracassou nas eleições 2020
Em seu primeiro teste nas urnas como presidente, Bolsonaro foi malsucedido
Publicado 16/11/2020 14:52 | Editado 16/11/2020 19:28
Dois anos após a onda conservadora e antipolítica que o levou a Presidência da República, Jair Bolsonaro enfrentou, neste domingo (15), seu primeiro teste nas urnas – e foi malsucedido nas eleições municipais. Brasil afora, os candidatos apoiados pelo presidente somaram fracassos e demonstraram as fragilidades do bolsonarismo. A lista abaixo compila nove evidências do fiasco eleitoral de Bolsonaro em 2020.
1) Em São Paulo, depois de liderar as pesquisas no início da campanha eleitoral, Celso Russomanno (Republicanos) encolheu semana a semana e terminou com apenas 10,50% dos votos válidos. Além de abraçar a pauta da extrema-direita, Russomanno apresentou Bolsonaro ostensivamente na propaganda eleitoral – o que elevou a rejeição à sua candidatura. Apesar de contar com mais estrutura, tempo de TV e apoios, o candidato bolsonarista despencou de 789.986 votos em 2016 para 560.666 agora.
2) Incensado pelo clã Bolsonaro desde 2019, o prefeito carioca, Marcelo Crivella (Republicanos), conseguiu ir ao segundo turno, mas praticamente está derrotado na disputa contra seu antecessor, Eduardo Paes (DEM). Com uma gestão desastrosa e impopular à frente da prefeitura, Crivella perdeu quase um terço de seus eleitores entre os primeiros turnos de 2016 e 2020. Conforme pesquisa Datafolha divulgada no sábado (14), sua rejeição é de 62% – o que inviabiliza a reeleição. O ex-bispo da Igreja Universal não apenas sai derrotado – mas também afetou ainda mais a imagem de Bolsonaro no Rio de Janeiro.
3) Concorrendo à Prefeitura de Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) foi o primeiro candidato ao qual Bolsonaro declarou apoio em 2020. Embora sua votação tenha sido superior à prevista pelas pesquisas, Engler não chegou a 10% dos votos, bem atrás do prefeito reeleito Kalil (PSD), que teve 63,36%. Mesmo com o segundo lugar do candidato bolsonarista, seu partido, o PRTB, elegeu um único vereador na capital mineira.
4) Em Fortaleza, o candidato a prefeito apoiado por Bolsonaro, Capitão Wagner (Pros), chegou a liderar as pesquisas, mas terminou como segundo colocado em votos, com 33,32%. Wagner vai ao segundo turno e tende a ser derrotado por Sarto (PDT) – o candidato de Ciro Gomes. Segundo pesquisa Ibope divulgada no sábado (14), o postulante bolsonarista tem o dobro da rejeição de seu oponente – 37% a 19%.
5) Na terça-feira (10), a cinco dias da eleição à Prefeitura do Recife, a candidata Delegada Patrícia (Podemos) teve destacada participação numa das “lives eleitorais” de Bolsonaro. Juntos, a dupla de extrema-direita prometeu “varrer a esquerda” na capital pernambucana. Com 100% das urnas apuradas, a esquerda fez a festa e levou dois candidatos ao segundo turno – os primos João Campos (PSB) e Marilia Arraes (PT). Varridos, na prática, foram Patrícia e Bolsonaro, que amargaram um quarto lugar.
6) Como cabo eleitoral, Bolsonaro tampouco conseguiu prevalecer na região Norte, onde a popularidade do presidente está acima da média nacional. Seu candidato a prefeito em Manaus (AM), Coronel Menezes (Patriota), obteve 11,32% e ficou na quinta colocação. Bolsonaro também pediu voto para um candidato a vereador de Boa Vista (RR) que concorreu com o sobrenome famoso do presidente. Mas Deilson Bolsonaro (Republicanos) acabou na terceira suplência.
7) Carlos Bolsonaro (Republicanos) não ostenta mais o título de campeão das urnas no Rio de Janeiro. De 106.657 votos em 2016, o filho 03 de Jair Bolsonaro regrediu, em 2020, para 71 mil. Assim, perdeu para Tarcísio Motta (PSOL) o posto de vereador carioca mais votado. Sua mãe, Rogéria Bolsonaro, ex-mulher do presidente, também se candidatou a vereadora pelo Republicanos, mas recebeu pouco mais de 2 mil votos. Em quatro anos, a família teve 33 mil votos a menos.
8) Na contabilidade geral, Bolsonaro apoiou 45 candidatos a vereador em 27 cidades. Somente dez se elegeram. No time dos perdedores sobressai, pelo simbolismo, o nome Wal do Açaí (Republicanos). A ex-funcionária fantasma do próprio Bolsonaro (quando ele era deputado federal) adotou o nome de Wal Bolsonaro para disputar uma vaga na Câmara Municipal de Angra dos Reis (RJ). Apenas 266 eleitores votaram nela.
9) A maior evidência do tombo bolsonarista é que o próprio presidente acusou o golpe. No sábado, Bolsonaro postou no Facebook uma lista com 13 indicações de votos pelo Brasil. Com a derrota dos “ungidos”, o post foi apagado no domingo, pouco depois do anúncio dos resultados eleitorais. “Minha ajuda a alguns poucos candidatos a prefeito resumiu-se a 4 lives num total de 3 horas”, tergiversou o presidente, em mensagem posterior nas redes. Como distração, Bolsonaro ainda criticou o governador João Doria (PSDB-SP), afirmou que a esquerda sofreu uma “derrota histórica” e insinuou falhar no sistema eleitoral. Nada disso teve potencial para ofuscar seu gigantesco fracasso.