Novo avanço da covid-19 pode interferir nas festas de fim de ano

Com aumento da transmissibilidade e do número de casos, confraternizações que exigem aglomeração podem ser canceladas

Chegada das primeiras 120 mil doses da vacina Coronavac em São Paulo. Foto: Governo SP

Mesmo com notícias otimistas sobre a eficácia de vacinas contra a covid-19, cresce a preocupação de cientistas com uma possível segunda onda da doença no Brasil e no mundo. O aumento do número de casos exigirá que o planejamento estratégico de combate ao coronavírus seja repensado e aplicado, tanto nos níveis governamentais quanto particulares. Confraternizações e viagens nesse período de festas de fim de ano devem ser revistas e as medidas de prevenção de contaminação devem continuar sendo prioridade.

O professor Álvaro Furtado Costa, infectologista do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, conta ao Jornal da USP no Ar que os boletins epidemiológicos das próximas semanas serão decisivos para a confirmação de uma segunda onda e até mesmo retrocessos nas medidas de flexibilização. “Não dá para se ter certeza absoluta ainda, mas essa realidade é totalmente factível, considerando números como aumento das internações e uma nova subida da curva. A ideia então é olhar para os dados com cuidado e assim evitar com que aquele cenário de falta de leitos da primeira leva aconteça novamente”, explica.

É um conjunto de fatores que levam os especialistas a acreditarem na possibilidade de uma nova expansão da covid-19, entre eles, o aumento do ritmo de contágio (Rt), que foi de 0,68, em 10 de novembro, para 1,10 em 17 de novembro, segundo balanço feito pelo monitoramento do Imperial College de Londres, no Reino Unido. Isso indica que, para cada grupo de cem pessoas contaminadas, o vírus pode ser transmitido para outros 110 indivíduos.

Outros marcadores são as taxas de ocupação de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), de novos casos e de óbitos, que devem ser levados em conta no planejamento estratégico. Esses dados têm aumentado por conta da chamada “fadiga epidemiológica”, que consiste no cansaço de adotar as medidas de prevenção necessárias, como o distanciamento social e o uso de máscara. Costa alerta que isso é perigoso, pois “apesar de termos notícias otimistas sobre a vacina, um detalhe tem que ficar muito claro para a população: a gente não vai ter vacina rapidamente para todo mundo”. O processo de imunização é longo, as etapas burocráticas (como o registro das vacinas e autorização para serem usadas em território brasileiro) podem ser demoradas e haverá prioridade na imunização para idosos e profissionais da saúde, então, o doutor da FMUSP não acredita que a vacina será implementada em dezembro nem no começo do ano que vem, e que é necessário cuidado e paciência.

Outra recomendação é em relação aos planos de fim de ano. “Quem planeja festas e viagens com aglomerações precisa ficar muito atento com os próximos boletins epidemiológicos, porque há chances desses eventos serem cancelados, e provavelmente precisaremos dar alguns passos para trás em termos da flexibilização para conter o avanço da covid-19 e garantir que haja leitos nos hospitais para quem precisa”, indica o professor.

Edição de entrevista à Rádio USP

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