Walter Sorrentino: É preciso defender a paz na Colômbia
No próximo dia 24 de novembro completam-se 4 anos da assinatura do Acordo de Paz entre o governo colombiano e a Farc-EP. Walter Sorrentino, em seu comentário semanal sobre geopolítica, fala sobre a necessidade de defender o acordo de paz, sistematicamente violado pelo governo colombiano, e faz uma saudação ao evento Abraçamos a Paz, realizado em Bogotá. Assista, abaixo, o vídeo (em espanhol) e leia o texto em português.
Publicado 20/11/2020 17:11
É preciso defender a paz na Colômbia
Amigos e amigas, no dia 24 de novembro de 2016 a humanidade voltava o olhar esperançoso para Bogotá. Nesta ocasião, na capital da Colômbia, em uma cerimônia reunindo o ex-presidente, Juan Manuel Santos e o comandante em chefe das Farc, Timoleón Jiménez, assinava-se o tão ansiado acordo de paz, que poria fim a mais de 50 anos de conflito armado entre o principal grupo guerrilheiro e o governo colombiano.
Era o ponto culminante de uma longa caminhada em busca de uma solução pacífica, que, nesta etapa, começou em 2012 com os diálogos de paz entre o governo e a guerrilha, contando com o apoio e o aval dos governos de Noruega e Cuba e da Organização das Nações Unidas.
Durante todo este tempo, os povos amantes da paz mundial incentivaram e prestaram ativa solidariedade ao povo colombiano, que através de suas diversas organizações sociais promovia intensa campanha em defesa do acordo e da democracia.
É compreensível que 50 anos de conflito armado, com todas as suas dolorosas consequências, tivessem deixado em ambos os lados, ressentimentos mútuos. No entanto, este não era o principal obstáculo à conquista da paz. O principal obstáculo à paz era e continua sendo a mafiosa indústria da guerra, que através da violência armada busca perpetuar a injustiça, impor suas leis e tornar impunes os diversos crimes das milícias paramilitares da extrema-direita.
Infelizmente, desde antes da assinatura do acordo definitivo, assassinatos contra ex-guerrilheiros e sabotagens de todo o tipo visavam recrudescer o conflito, o que ganhou impulso com a eleição para a presidência da Colômbia, em 2018, de Iván Duque, representante da extrema-direita e da guerra.
É com muita dor no coração que recebemos a informação de que, desde a data da assinatura do acordo até setembro último, 1.008 lutadoras e lutadores sociais foram assassinados, além de 227 ex-guerrilheiros e ex-guerrilheiras.
Por ocasião da assinatura do acordo de paz, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) fez a seguinte saudação, abre aspas:
“O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) considera uma importante conquista democrática a assinatura do acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular (Farc-EP). Saíram fortalecidos os setores progressistas colombianos, os povos da América Latina e a luta pela paz, beneficiando, portanto, toda a humanidade.”
Fecha aspas.
Dirijo-me neste momento aos colombianos e colombianas presentes no evento “Abraçamos a paz”, realizado em comemoração aos 4 anos da assinatura do acordo definitivo. Companheiros e companheiras, apoiamos vossa luta em defesa da paz. Apesar de todos os percalços, apesar de todas as violações, consideramos que o acordo de paz deve ser defendido. Abandoná-lo, seria entregar a vitória aos senhores da guerra, aos criminosos que lucram com a morte.
Ao contrário disso, é preciso defender que o Acordo seja respeitado e cobrar que a Organização das Nações Unidas exerça seu papel como fiadora da paz, como é a proposta deste importante encontro.
Faço minhas as palavras do importante comunicado conjunto emitido pelos queridos camaradas do Partido Comunista Colombiano e da União Patriótica em 2019, intitulado “O futuro da Colômbia não pode ser a guerra”. Neste documento, as duas organizações chamavam a “defender o acordo e sua implementação em sua totalidade, a vida dos líderes sociais e políticos, os ex-combatentes em processo de reincorporação, e a não desfalecer na conquista da paz com justiça social”.
Companheiros e companheiras, ultimamente, ventos novos vindos da Bolívia, do Chile e de toda nossa América em luta, vêm renovando com ar puro o ambiente até então contaminado pela extrema-direita e pelo imperialismo. Na Colômbia e no Brasil não será diferente. A guerra será derrotada, a paz vencerá.
Abraços do Partido Comunista do Brasil.
Walter Sorrentino é médico, vice-presidente nacional e secretário de relações internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)