Pesquisadores contestam assinaturas em plano de vacinação do governo

Grupo técnico de 36 cientistas divulgou nota questionando a não inclusão de grupos vulneráveis e de todas as vacinas disponíveis.

Plano do governo federal não traz data para início da imunização - Foto: Governo de São Paulo

Após exigência do Supremo Tribunal Federal (STF), o governo federal enfim apresentou um plano nacional de imunização contra a Covid-19 neste sábado (12). O ministro Ricardo Lewandowski, relator das ações sobre o tema protocoladas na Corte, determinou a imediata publicização do plano. Horas depois, mais um imbróglio envolvendo a gestão da pandemia no governo Jair Bolsonaro: pesquisadores afirmaram que suas assinaturas foram incluídas sem autorização no documento.

“Nós, pesquisadores que estamos assessorando o governo no Plano Nacional de Vacinação da Covid-19, acabamos de saber pela imprensa que o governo enviou um plano no qual constam nossos nomes e nós não vimos o documento. Algo que nos meus 25 anos de pesquisadora nunca tinha vivido!”, espantou-se em uma rede social Ethel Maciel, enfermeira, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

O grupo técnico de 36 pesquisadores, então, divulgou uma nota informando que o plano não foi apresentado aos cientistas e que solicitaram uma reunião antes do envio ao STF, pois havia preocupação devido à retirada de grupos prioritários do cronograma de vacinação e à não inclusão de todas as vacinas disponíveis. O plano cita a CoronaVac como uma das vacinas em teste, mas o governo optou por não firmar acordo de compra como fez no caso da Oxford/AstraZeneca, que também está em fase de testes.

“Reiteramos nossa recomendação técnica para que todas as populações vulneráveis sejam incluídas na prioridade de vacinação, como indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas, privados de liberdade e pessoas com deficiência. Além dessas, também as outras populações e grupos populacionais já incluídos e apresentados no plano inicial do governo”, afirma a nota dos pesquisadores.

Os cientistas pedem ainda a ampliação do escopo para inclusão de todos os trabalhadores da educação e dos trabalhadores essenciais. O plano enviado ao STF coloca somente os professores como grupo prioritário.

O grupo técnico também pede esforços do Ministério da Saúde “para que sejam imediatamente abertas negociações para aquisição de outras vacinas que atendam aos requisitos de eficácia, segurança e qualidade, inclusive com laboratórios que reúnam condições de produção e oferta de doses de vacina e com outras empresas também com oferta de vacinas seguras e eficazes”.

Os pesquisadores afirmam que um atraso na campanha de vacinação significa vidas perdidas e que a vacinação “é a mais importante tarefa de nosso tempo”. Veja a íntegra do documento, divulgado no site da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que os profissionais citados no plano de imunização “são técnicos escolhidos como convidados” para “participarem de debates, com cunho opinativo e sem qualquer poder de decisão na formalização do Plano de Imunização contra a Covid-19”.

O ministério diz ainda que o plano “não apresenta data exata para vacinação, ante a inexistência no mercado nacional de um imunobiológico eficaz e seguro, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Ampliada às 16h para incluir posicionamento do Ministério da Saúde.

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