Alto custo da vacinação não se compara com custo econômico da pandemia

Os impactos, tanto financeiros, quanto sociais, não se restringem ao momento em que a pandemia acontece, mas podem gerar consequências durante muitos anos, como na educação, no trabalho e no consumo.

Montagem de Cezar Xavier

Nesta segunda (14), a USP reuniu alguns de seus maiores especialistas nos vários aspectos envolvendo a imunização da população brasileira contra o coronavírus. O evento Vacinas e covid- 19: Uma visão multidisciplinar foi transmitido pelo Canal USP no YouTube para uma audiência que atinge, só neste primeiro dia, mais de 10 mil usuários. A maioria cheia de perguntas e atenta a um tema que neste momento interessa a qualquer pessoa: uma vacina que, se não der fim a esta pandemia, ao menos poderá inaugurar um capítulo menos trágico dela – são mais de 180 mil mortos pela doença até agora no País.

Nesta sessão, a pesquisadora da FEA Maria Dolores Montoya Diaz falou sobre o quanto pode custar uma pandemia. Levantando a discussão sobre os impactos econômicos da doença e da vacinação na população, a conclusão é de que, embora os custos de vacinação sejam altos, o custo da inação é muito maior.

Maria Dolores Montoya Diaz – Foto: arquivo pessoal

A professora ressaltou que a complexidade das consequências de uma pandemia não pode ser medida tão facilmente. Os impactos, tanto financeiros, quanto sociais, não se restringem ao momento em que a pandemia acontece, mas podem gerar consequências durante muitos anos. “As repercussões trazidas pela covid-19 não são apenas decorrentes da própria doença, mas também em relação à aversão ao risco que parte dos indivíduos adquire”, disse.

Uma das grandes preocupações é sobre o que acontecerá como resultado do fechamento das escolas, por exemplo. Há um efeito de longo prazo que pode afetar a produtividade das pessoas e, por consequência, a atividade econômica.

Para ela, é importante observar os efeitos das medidas de combate à pandemia nos indivíduos. No Brasil, as medidas de redução do contágio, no campo da economia, se encontraram em quatro esferas: aquelas ligadas à própria doença (compra de materiais, respiradores, ampliação de leitos de UTI e afins), medidas para a proteção do emprego, medidas de crédito para a proteção de empresas, e o auxílio emergencial, o mais caro até agora, custando cerca de R$ 320 bilhões aos cofres públicos. Atualmente, o total dessas medidas soma em torno dos R$ 500 bilhões.

“É preciso que haja um investimento permanente em tecnologias de vacinação. As vacinas que estão sendo disponibilizadas agora só existem porque já havia pesquisa há muito tempo sobre isso”, explicou a professora.

Na hora de fechar as contas, o preço da inação é muito superior ao custo da vacinação, disse Maria Dolores Diaz – Foto: Pixabay-CC

Diaz destacou ainda três fatores que precisam ser levados em conta na hora de elaborar um plano de vacinação: incertezas sobre o graus de eficácia da vacina, externalidades (presença de efeitos nos grupos que não poderão se vacinar, ou seja, quanto maior o número de vacinados, melhor) e informação assimétrica (nem todos detêm o mesmo conhecimento sobre a vacina).

Para avaliar o custo da vacinação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disponibiliza uma planilha para ser preenchida. Porém, os preços unitários não contemplam a vacina da Pfizer mas comportam a da Moderna, por exemplo. Para estimar o valor, é preciso levar em consideração as questões logísticas de transporte, compra de insumos necessários para aplicação, entre outros. Assim, um dos possíveis preços unitários da vacina seria em torno de US$ 22,15.

Com base no plano de vacinação do governo britânico — utilizado por Diaz devido a uma questão de clareza — e em dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a primeira dose da vacina teria que ser dada para 110 milhões de brasileiros, de acordo com a pesquisadora. “É claro que não vamos conseguir vacinar esse número de pessoas, mas serve de estimativa”, explicou.

“O preço da inação é muito superior ao custo da vacinação, mas precisamos falar do custo da vacina para fazer um bom planejamento”, defendeu a professora. Além do preço da própria vacinação, é preciso estimar custos elevados para a conscientização da população em relação à importância da imunização.

O evento foi organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, pelo Instituto de Estudos Avançados e pela Superintendência de Comunicação Social. 

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