Fim do auxílio deixará 24 milhões de brasileiros na miséria, diz FMI
Segundo Kristalina Georgieva, “as autoridades devem proteger os pobres e evitar um aumento acentuado da desigualdade de renda e da pobreza”
Publicado 16/12/2020 09:45 | Editado 16/12/2020 17:46
A miséria vai explodir no Brasil se a pandemia de Covid-19 persistir forte e o presidente Jair Bolsonaro interromper o pagamento do auxílio emergencial. Segundo Kristalina Georgieva, diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional), o fim do auxílio deixará 24 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza.
“A pandemia não acabou, a crise de saúde não acabou e, por isso, recomendamos aos países que mantenham apoios direcionados para as pessoas mais vulneráveis. A preocupação número um é que a pobreza aumente – já vimos o desemprego no Brasil aumentar”, declarou Kristalina, nesta terça-feira (15), em entrevista conjunta, aos jornais Folha de S.Paulo, El País (Espanha) e Excélsior (México).
Conforme a economista – que é formada na Universidade Harvard e foi diretora-geral do Banco Mundial (2017-2019) –, a suspensão abrupta do auxílio emergencial, prevista para este mês de dezembro, ampliará a desigualdade econômica e social no País. “Cortar essa corda de salvamento prematuramente é um perigo para a pobreza e a desigualdade – e também para o sucesso na recuperação mais rápida e robusta”, diz ela.
“Nossa estimativa é de que um total de 24 milhões de brasileiros poderiam ficar em extrema pobreza sem apoio”, agrega a diretora do FMI. “Dado o alto nível de incerteza, as autoridades devem continuar a calibrar cuidadosamente sua resposta e se adaptar rapidamente às novas circunstâncias. Devem proteger os pobres e evitar um aumento acentuado da desigualdade de renda e da pobreza.”
Na avaliação do FMI, é inevitável que uma pandemia agrave as desigualdades. Mas as políticas públicas dos governos nacionais devem priorizar os segmentos “mais severamente impactados”, especialmente os trabalhadores de baixa qualificação, as mulheres e os jovens. “Sabemos que, em todas essas três categorias, já havia problemas antes da pandemia. E agora esses problemas são ampliados”, afirmou.
Kristalina também critica a postura negligente de Bolsonaro em relação à vacina contra o novo coronavírus. “Infelizmente, temos que reconhecer que, se a vacinação for retida em algumas partes do mundo, isso trará mais irregularidades na recuperação econômica”, declarou a economista. “Claramente alguns países da América Latina agiram mais rápido para garantir a vacinação de 100% de sua população, como Chile, Costa Rica e México. Depois, vemos outros países um pouco atrás.”
Para o FMI, a falta de uma coordenação entre os países é outro fator que afetará negativamente a economia global. “Isso é uma preocupação para os formuladores de políticas públicas. Quanto mais rápido pudermos avançar a vacinação em todas as pessoas e lugares, melhor será o resultado da recuperação econômica.”