China amplia presença na América Latina

Mesmo no Brasil, as importações chinesas cresceram de 2019 para 2020

Durante a pandemia de Covid-19, a China, sob a liderança do Partido Comunista, ampliou sua participação na pauta de importações dos países da América do Sul e do México. Já o Brasil e os Estados Unidos, governados por líderes extremistas e negacionistas, perderam espaço.

As importações chinesas para a Argentina, por exemplo, passaram de 18,8% do total importado no período de janeiro a outubro de 2019 para 19,77% no mesmo período deste ano. Compras vindas dos EUA foram de 12,9% para 10,4%, e as provenientes do Brasil caíram de 20,6% para 20,2%.

Nos 11 primeiros meses do ano, as importações chinesas pelo Peru passaram de 24,1% do total para 28,1%, enquanto as americanas caíram de 20,9% para 18,4%. As brasileiras diminuíram de 5,7% para 5,4%. Fenômeno semelhante é observado na Colômbia, Chile, Equador e México. Mesmo no Brasil – apesar da retórica anticomunista do presidente Jair Bolsonaro –, as importações da China cresceram de 27,9% de janeiro a novembro de 2019 para 32,9% no mesmo período deste ano.

Para Margaret Myers, diretora do Programa de Ásia e América Latina do centro de estudos Inter-American Dialogue, em Washington, “várias razões” explicam a presença chinesa na região. Mas um ponto sobressai: “A China está produzindo uma gama muito mais ampla de produtos do que nos anos anteriores, e muitas vezes a preços competitivos. Bens e serviços chineses mais baratos são atraentes nestes tempos econômicos difíceis, seja para consumidores ou governos”.

O processo de avanço da China na pauta de importações dos países da região não é novo, mas ganhou força nos últimos meses. Desde o início dos anos 2000 a China vem inundando o mundo com manufaturados a preços competitivos, gerando um duplo efeito para países da América do Sul, afirma Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/ FGV).

“O surgimento da China como fábrica do mundo tem efeito duplo para esses países. Por um lado, os enriquece nos ciclos de alta das commodities”, diz. “De outro, tira mercado de outros ofertantes. Um atingido em especial é o Brasil, que não conseguiu dar o salto para produção de maior valor agregado nem aumentar a produtividade para competir com os chineses.”

No pós-pandemia, afirma Ribeiro, a tendência é esse fenômeno se aprofundar. “Mesmo com todos vacinados, no novo normal certas tecnologias e formas de valor agregado vão ganhar mais espaço”, diz Ribeiro, ao citar produtos ligados a tecnologia da informação que podem ter valor unitário mais baixo, mas são vendidos em grandes volumes. “Nesse setor, a América Latina como um todo não tem vantagem comparativa, e os países asiáticos parecem estar mais preparados.”

Nos próximos anos, o interesse de Pequim na região deve continuar alto, afirma Myers. “A China provavelmente continuará a se envolver com alguns dos setores econômicos mais essenciais da região nos próximos meses e anos, embora talvez em um ritmo um pouco mais limitado do que no passado”, diz. Para Myers, nem mesmo a eleição de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos deve alterar isso.

Com informações do Valor Econômico

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