De Olho no Mundo, por Ana Prestes
O possível impeachment de Donald Trump e a preocupação com a segurança na posse de Joe Biden nos EUA são os destaques da análise da cientista política Ana Prestes. O auto perdão presidencial de Trump e a inclusão de Cuba à lista americana de países terroristas, o evento internacional sobre desmatamento sem a presença do Brasil, a pesquisa sobre a origem do coronavírus, a construção de casas por parte de Israel em desacordo com a lei internacional, o fechamento das fábricas da Ford no Brasil e a vacinação contra Covid-19 no mundo são outros assuntos da nota desta terça-feira (12).
Publicado 12/01/2021 12:21 | Editado 12/01/2021 15:53
Vencido o prazo que havia sido dado a Mike Pence, vice-presidente dos EUA, para que se decidisse sobre o uso da 25ª emenda constitucional dos EUA para afastar Donald Trump da presidência, parlamentares democratas sustentam que pretendem votar amanhã (13) o pedido de impeachment protocolado na casa ontem (11). Será o segundo processo de impedimento enfrentado por Trump na casa. Há um ano exatamente entre dezembro e janeiro ele enfrentou processo semelhante, que foi aprovado na Câmara dos Representantes, mas rejeitado no Senado. Desta vez, o processo pode decorrer mesmo que ele já esteja fora da Casa Branca, pois daqui a 8 dias, no dia 20 de janeiro, toma posse o presidente eleito Joe Biden. O argumento utilizado para o pedido de impeachment é “incitação à insurreição”, em referência ao estímulo dado por Trump aos seus apoiadores, que invadiram o Capitólio no último dia 6 de janeiro durante sessão conjunta do congresso que referendou a eleição de Biden no colégio eleitoral. Por enquanto, segundo notícias da imprensa americana, o processo seria aprovado por estreita margem, com votos de democratas e republicanos.
Outro evento que preocupa as autoridades em Washington é a posse presidencial do próximo dia 20. Ontem (11) o secretário interino do Departamento de Segurança Interna, Chad Wolf, responsável por coordenar a segurança da solenidade, renunciou ao cargo. Embora suas alegações para a renúncia tenham sido outras, que não a invasão do Capitólio e pressão para garantir a segurança no dia 20, o ato foi entendido como parte da tensão pré-posse presidencial. Ele será substituído por Peter Gaynor, hoje administrador da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências. Também ontem (11), o FBI emitiu alerta sobre possíveis protestos armados que podem ocorrer nos 50 estados do país e em Washington entre o dia 15 e o dia 20 de janeiro. Estima-se que 15 mil soldados da Guarda Nacional serão enviados a Washington. Tradicionalmente, o juramento do novo presidente é feito no lado externo do Capitólio. Desta vez, avalia-se o grau de segurança que pode ser garantido a Biden para fazer o mesmo. A probabilidade maior é de que Trump não compareça à cerimônia (algo inédito nos séculos 20 e 21). Fala-se que ele partirá para seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida, um dia antes. Ironicamente, o tema escolhido pelos organizadores para o evento de posse deste ano será “América Unida”.
Circulam informações de que Trump estaria considerando conceder perdão presidencial a si mesmo antes de terminar seu mandato. Seria uma forma de se esquivar de futuras investigações e condenações. No bolo dos perdões, entrariam ainda seus filhos Donald Trump Jr., Eric Trump e Ivanka Trump (e seu esposo Jared Kushner), além de Rudolph Giuliani, advogado que tem dado a cara a tapa nas investidas públicas e judiciais para provar que houve fraude eleitoral no pleito presidencial de 2020. Seria algo inédito na história dos EUA, um auto perdão presidencial.
Ainda sobre Trump e seus últimos atos como presidente, ontem (11) foi dia dele avançar mais na sua agenda agressiva contra Cuba enquanto ainda pode. Faltando nove dias para o encerramento de sua gestão, o presidente incluiu Cuba na lista de “Estados patrocinadores de terrorismo”. A ilha havia sido retirada da lista em 2015 por Obama. Pompeo, que foi o autor material da medida, entre outras coisas, disse que Cuba tem uma “interferência maligna” sobre a Venezuela. Além de Cuba, estão nesta lista o Irã, a Coreia do Norte e a Síria. Países que sofrem severas sanções econômicas internacionais por fazerem parte desse “grupo”. O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, respondeu via twitter: “o oportunismo político desta ação é reconhecido por todo aquele que tiver uma preocupação honesta diante do flagelo do terrorismo e suas vítimas”. O sucessor de Pompeo na Secretaria de Estado, Antony Blinken, pode reverter a ação quando assumir o governo Biden, mas a burocracia pode levar meses.
Aconteceu ontem (11) um evento organizado pelo presidente francês Emmanuel Macron e que contou com a participação de 50 países (Brasil não) sobre compromissos para deter o desmatamento e avançar na defesa da biodiversidade mundial. Organizadores dizem que o Brasil foi convidado, mas o Itamaraty alega que não recebeu convite. A meta do grupo é realizar um compromisso dos governos para ampliar medidas de proteção ambiental, com a meta de preservar 30% de área terrestre e 30% dos oceanos até 2030. Segundo o jornalista Jamil Chade, em sua coluna no Uol, um dos conceitos usados no encontro foi o de evitar a “importação de desmatamento”, que diz respeito a não importar produtos de países e regiões que estejam desmatando para produzir. Falou-se inclusive na elaboração de uma lei para “colocar fim à importação de desmatamento”.
Uma equipe da OMS fará uma visita à China a partir do próximo dia 14 como parte dos estudos para descoberta das origens da disseminação do novo coronavírus que gera a Covid-19. Segundo autoridades chinesas, os técnicos farão “investigações conjuntas com cientistas chineses sobre as origens da Covid”. O mundo está chegando aos 2 milhões de mortes oficiais de pessoas adoecidas após a infecção pelo vírus, além dos 90 milhões infectados registrados no planeta.
Premiê israelense Benjamin Netanyahu ordenou ontem (11) a construção de 800 casas para judeus na Cisjordânia ocupada. Território palestino colonizado pelos israelenses com apoio dos EUA. A ação desrespeita (como tantas outras de Israel) a lei internacional (resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU). Estima-se que já passam de 500 mil os colonos israelenses vivendo na região da Cisjordânia. Netanyahu não deixou dúvidas sobre a ação em sua conta no twitter: “estamos aqui para ficar”. Israel está com eleições marcadas para 23 de março (quarta eleição em 2 anos).
Repercutiu muito ontem (11) o anúncio da Ford de que vai fechar suas fábricas no Brasil (Camaçari- BA, Horizonte – CE e Taubaté – SP) e manterá sua operação na Argentina e no Uruguai. Em 2019 a fabricante de automóveis já havia fechado sua fábrica de São Bernardo do Campo – SP. A fábrica estava presente no Brasil há um século, desde 1919. Analistas do setor dizem que a Ford vem perdendo posições mundiais nos últimos 10 anos para outras fabricantes como a Hyundai e a Renault e a pandemia acabou por minguar ainda mais seus lucros no Brasil. Em dezembro passado, a Ford já havia anunciado um investimento de 580 milhões de dólares para a fabricação de um modelo específico (Ranger) de automóvel em sua fábrica na Argentina. Tudo indica que o potencial exportador da Ford na Argentina é bem maior que no Brasil.
O Reino Unido já chegou a 2 milhões de vacinados contra o coronavírus. São 200 mil vacinados por dia. Projeta-se que até meados de fevereiro os mais vulneráveis (14 milhões de pessoas) terão sido vacinados e todos os adultos até setembro. Israel também tem avançado a passos largos com a vacinação e pretende ser o primeiro país a eliminar a Covid via vacinação em massa da população. No Brasil, ainda impera a incerteza sobre a campanha de vacinação a ser realizada pelo Governo Federal. Uma notícia que circulou nos últimos dias é de que começará a ser produzida em Brasília no dia 15 próximo a vacina russa Sputnik V. Mais de 1,5 milhão e meio de pessoas já foram vacinadas com essa vacina do Centro Gamelaya russo em todo o mundo. Existe um site que vai atualizando o número de pessoas já vacinadas no mundo. Dei uma olhadinha no site hoje (12) e aparecem os dados de que a China e EUA já aplicaram 9 milhões de vacinas em suas populações, cada, e na sequência vem Reino Unido e Israel.