Brasil que produzia insumos farmacêuticos, hoje depende de importação

Segundo Vania Passarini Takahashi, não vai dar para sanar a produção de insumos do dia para a noite. Os passos para melhorar essa situação seriam: encontrar pessoas qualificadas para traçar rotas, fabricar esses insumos e monitorar a qualidade da produção

O Brasil produzia 55% dos insumos necessários para o seu consumo interno, enquanto hoje, o porcentual é de 5% – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Diante da necessidade de importação de insumos para a fabricação de vacinas contra a covid-19, o questionamento envolvendo a dependência de outros países para o fornecimento desses produtos, tais como China e Índia, voltou a aparecer. A falta desses insumos, por exemplo, causa problemas que atrasam todo um cronograma de vacinação.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), na década de 80 o Brasil produzia 55% dos insumos necessários para o seu consumo interno, enquanto  hoje, o porcentual é de 5%.

“Conforme foram passando as décadas, por causa de uma questão política de várias gestões, o Brasil cada vez mais foi se desindustrializando”, comenta Vania Passarini Takahashi, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP.

A professora explica que não só o Brasil, mas países como os Estados Unidos, perceberam que era mais fácil deixar outros países produzirem determinados produtos e insumos em vários setores industriais, para depois importar esses mesmos produtos.

Brasil precisa produzir insumos

Vania detalha que diversos estudos e entidades já indicavam o aumento da dependência do Brasil com relação à importação de insumos farmacêuticos, algo que ocorre não só neste momento, devido ao contexto pandêmico, mas considerando todos os medicamentos, inclusive os genéricos, que precisam de quase 90% de insumos importados para serem produzidos.

“O Brasil precisa fazer essa retomada, identificando setores estratégicos. Não vai dar para sanar a produção de insumos de um dia para a noite na questão do Brasil”, afirma Vania. Os passos para melhorar essa situação seriam: encontrar pessoas qualificadas para traçar rotas, fabricar esses insumos e monitorar a qualidade da produção.

Além do setor de vacinas, a falta de insumos também prejudica a produção de antibióticos, antineoplásicos e medicamentos para doenças negligenciadas como as que afetam o sistema nervoso central ou cardiovasculares.

Edição de entrevista à Rádio USP

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