Novo livro de Elias Jabbour: “Uma economia socialista para o século 21″

Livro escrito a quatro mãos trata da “ressignificação de alguns conceitos do marxismo à luz dos desenvolvimentos que o capitalismo teve de 40 há 50 para cá, ou seja, o capitalismo é outro”

O geógrafo e pesquisador Elias Jabbour

No início deste mês, o professor de relações internacionais e de economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Elias Jabbour tuitou a novidade e repercutimos na Hora do Povo.

Segundo Jabbour, “neste ano”, a Routledge, que é editora multinacional britânica, fundada em 1836, vai lançar livro escrito por ele, em parceria com o economista italiano, Alberto Gabriele.

“Uma grande vitória pessoal, acadêmica e editorial: uma das maiores editoras do mundo, a @routledgebooks publicará livro escrito por mim e Alberto Gabriele. O nome do livro ainda está em discussão, mas a proposta original é ‘Socialist Economic Development in the XXIth century’”, tuitou Jabbour.

Hora do Povo conversou com o professor Elias Jabbour, na manhã desta terça (16), feriado de Carnaval, e ele explicou que o livro, escrito a quatro mãos, trata “basicamente, a primeira parte do livro da chamada ressignificação de alguns conceitos do marxismo à luz dos desenvolvimentos que o capitalismo teve de 40 há 50 para cá, ou seja, o capitalismo é outro. E também à luz do fim da União Soviética [hoje Rússia], em que o capitalismo passou a dominar o mundo completamente”, pontificou.

Assim, “todas as experiências que vierem a surgir de socialismo têm que se adaptar a esse capitalismo”, completou. E acrescentou: “Aquele socialismo, isolado em bloco fechado, não tem mais condições para isso hoje no mundo”.

Planejamento

“Depois desse primeiro capítulo, em que nós falamos sobre a China, que é o caso mais proeminente, uma parte bem longa, em que nós trabalhamos com conceito de a China como a primeira experiência de uma ‘Nova Classe de Formações Econômicas e Sociais’. Assim, constituímos toda a história econômica chinesa dos últimos 40 anos, a partir de uma visão, vamos dizer assim, historicizada do planejamento econômico.”

“Então eles [os chineses] se movem de um planejamento central para outro baseado na geração de valor, baseado no mercado. Isso envolve a constituição de empresas competitivas no mercado, apesar de essas não serem necessariamente voltadas ao lucro. Essas têm que ser orientadas para o mercado, como é o caso das empresas estatais”, chama a atenção.

‘Nova Economia do Projetamento’

O professor acrescentou ainda sobre os “marcos institucionais que foram elevando as capacidades estatais da China, até surgiu hoje o que chamamos de ‘Nova Economia do Projetamento’, que é uma economia baseada em grandes projetos e que se constitui num dos estágios mais avançados desse chamado ‘socialismo de mercado’”.

Segundo outro livro do professor Elias Jabbour — China: socialismo e desenvolvimento, sete décadas depois — ‘Nova Economia do Projetamento’ é a “versão 4.0 do socialismo”, que funde ou junta — elaboração do século 20, do economista Ignácio Rangel (1914-1994) —, “a planificação soviética, o keynesianismo e a economia monetária”.

Trata-se, pois, segundo Jabbour, “de economia que demanda a constituição de conceitos e categorias [econômicas]. Mas que pelo fato de a China ter alcançado nível de desenvolvimento que significa domínio maior do ser humano sobre a natureza, essa elevação da capacidade de o ser humano dominar a natureza demanda novos conceitos sobre novas categorias [econômicas] para compreender esse processo histórico”, explica.

“As teorias, essas surgem, espelhando vamos dizer assim, os modos de produção e os seus desenvolvimentos. Então, nesse caso da China não é diferente. Falamos, por exemplo, de uma institucionalidade chamada Sasac, que nós chamamos do management [conjunto de conhecimentos referentes à organização e à gestão de uma empresa; administração] do ‘socialismo de mercado’, que o Estado chinês criou essa instituição para que essa cuide dos interesses do Estado no interior dessas estatais”.

Falamos ainda do “surgimento, por exemplo, de uma classe [segmento] empresarial chamada de empresas ‘não capitalistas’ orientadas para o mercado. São, basicamente, empresas rurais chinesas, que se transformaram em grandes empresas, que hoje dominam mais de 40% do horizonte empresarial chinês, a Huawey é uma empresa desse tipo”, comentou.

Vietnã

O Vietnã, país do Sudeste Asiático, situado no Mar da China Meridional, também mereceu um capítulo do livro de Jabbour e Gabriele, que é a terceira parte da obra, e se dedica ao país de Ho Chi Minh. Ho foi um dos principais responsáveis pela libertação do Vietnã do colonialismo francês e imperialismo estadunidense durante o século 20.

O livro “tem um capítulo longo sobre o Vietnã, que seria [é] a segunda experiência dessa ‘Nova Classe de Formações Econômicas e Sociais’”. “Então nós também passamos por toda a experiência vietnamita, desde o Doymoy, que é o nome das reformas econômicas de 1986 até hoje”, sintetizou.

Novo lançamento pela Boitempo

Edição semelhante vai ser lançada daqui a “dois ou três meses”, pela Editora Boitempo, cujo título deve ser A China e o socialismo no nosso tempo, a ‘Nova Economia do Projetamento’, como estágio mais avançado do socialismo. “Não se trata de livro semelhante”, disse.

“Então serão dois livros: esse da Routledge, que deve sair este ano; e esse da Boitempo, que está em estágio mais avançado de edição, que deve sair daqui a dois ou três meses”, lembrou.

Sobre os autores

Elias Jabbour é doutor e mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – Universidade de São Paulo), professor do PPGCE-FCE-Uerj (Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e pesquisador da Fundação Maurício Grabois. Ele também escreveu os livros China: infraestruturas e crescimento econômico (Anita Garibaldi, 2006), China: desenvolvimento e socialismo de mercado (Departamento de Geociências, CFH, UFSC, 2006) e China hoje: projeto nacional, desenvolvimento e socialismo de mercado (Anita Garibaldi/UEPB, 2012).

 Alberto Gabriele é mestre em Economia pela London School of Economics e autor de “Enterprises, Industry and Innovation in the People’s Republic of China – Questioning Socialism from Deng to the Trade and Tech War” (Springer, 2020). É ex-economista da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e pesquisador independente.

Fonte: Hora do Povo