Covid-19: cresce o apoio à vacina após início da imunização

Seja no Brasil, seja no mundo, a aplicação das primeiras doses ajudou a reverter a opinião popular

A onda antivacina perde força no mundo. Com o início da imunização a Covid-19 em diversos países, pesquisas registram um aumento do apoio às campanhas de vacinação. No Brasil, conforme pesquisa XP/Ipespe, o número de brasileiros que dizem que com certeza se vacinarão saltou de 69% em janeiro para 77% em fevereiro. A alta coincide com o início da imunização no País.

Mundo afora, a aplicação das primeiras doses ajudou a reverter a opinião popular. Na França, 58% da população rejeitava o imunizante, segundo levantamento feito em 22 e 23 de dezembro pelo instituto Odoxa com a consultoria Backbone. A pesquisa indicava que um dos principais motivos apontados pelos entrevistados era que “não se vacinar é uma decisão razoável tendo em vista uma nova doença e uma nova vacina”.

Porém, em 27 de dezembro, o primeiro francês recebeu a injeção contra a Covid-19 – e o cenário se inverteu. Na sondagem seguinte, de 13 e 14 de janeiro, já eram 56% os que se vacinariam no país. Mudar a cultura local é um dos desafios das autoridades sanitárias, diz o médico francês Michaël Rochoy, pesquisador de epidemiologia na Universidade de Lille.

“Historicamente, há um grande movimento antivacina”, afirma Rochoy, citando estudo de 2019 em 54 países no qual a França liderou o ranking em quantidade de pessoas que não confiavam nas imunizações. “Países ricos não veem mais epidemias. Não é o caso da Covid – mas a epidemia de rubéola, por exemplo, não existia mais e voltamos a ver alguns casos porque cada vez mais pessoas se esquecem de se vacinar ou não querem.”

Na Espanha, segundo levantamento do instituto britânico YouGov, a intenção de se vacinar aumentou mais de 20 pontos após o início da vacinação, igualmente em 27 de dezembro. No dia 18 daquele mês, 52% estariam dispostos a aderir à campanha. O índice foi a 66% em 7 de janeiro e a 73% no dia 5 de fevereiro.

Outra evolução impressionante ocorreu no Reino Unido, primeiro país ocidental a vacinar sua população. Também de acordo com o YouGov, em 10 de novembro, 63% dos britânicos demonstravam intenção de receber o imunizante. Após o início da imunização, em 8 de dezembro, o número já saltou para 73% em levantamento do dia 14 daquele mês e chegou a 86% na pesquisa do dia 11 de fevereiro, o mais alto entre os 26 países analisados pelo instituto.

Os EUA também tiveram uma virada acentuada, que começou antes mesmo de o primeiro cidadão do país ser vacinado, em 14 de dezembro. No levantamento inicial realizado pelo instituto Gallup, em julho, 66% se disseram dispostos a receber a injeção. O percentual caiu para 50% em setembro, mas alcançou 71% no estudo mais recente, no fim de janeiro.

Para o chefe do departamento de Epidemiologia da Universidade de Michigan (EUA), Joseph Eisenberg, o que distingue a Covid-19 é que “as pessoas estão testemunhando a imensa mortalidade e os resultados severos”, diferentemente do que ocorre com outras doenças infecciosas para as quais há vacinas. “Quando lidemos com esses riscos baixos, muitas teorias da conspiração crescem e têm potencial de serem aceitas. Mas, quando lidamos com uma doença devastadora como a Covid, isso muda a opinião das pessoas.”

Na opinião do professor assistente de epidemiologia na Universidade de Michigan, Abram Wagner – que pesquisa a hesitação ligada às vacinas –, uma das grandes razões para a mudança de opinião é que o imunizante é mais tangível agora. “Alguns meses atrás, as pessoas não sabiam o que era e como seria (a vacina).”

Assim como Rochoy, o especialista americano aponta que a maioria das pessoas, na verdade, se encontra num limbo. “Quando penso em hesitação, gosto de ver um espectro. Algumas pessoas não querem nenhuma vacina e outras são muito pró-vacina”, diz. “A maioria está em cima do muro e pode ir tanto para um lado como para o outro.”

O médico francês faz uma analogia com a situação de um incêndio: “Quando o alarme toca, se ninguém se mexe, as pessoas vão continuar paradas. Mas, se elas saem, as outras seguem. E se ninguém se mexe mas um bombeiro vem e diz que tem que sair, as pessoas vão sair rapidamente porque é alguém de autoridade.”

Para convencer os que têm mais receio, é necessário facilitar o processo. “Se você tiver que ligar ou entrar em um site, marcar um horário, quem está hesitante não irá até o fim”, afirma Wagner. Um ponto-chave é fazer com que as vacinas estejam disponíveis em locais próximos às pessoas. Com a chegada da AstraZeneca na França, por exemplo, os farmacêuticos vão poder fazer a aplicação, o que facilita essa disponibilidade.

Com informações da Folha de S.Paulo