Trabalhadores informais podem perder 37% da renda sem auxílio, diz FGV

Estudo aponta deterioração das condições de vida entre contemplados com o benefício em 2020 que usualmente não recebem o Bolsa Família ou o BPC

(Foto: Ricardo Wolffenbuttel/Secom)

Enquanto o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, chantageia o Congresso, tentando vincular um novo auxílio para trabalhadores informais ao fim do piso para investimentos em saúde e educação, um grupo pertencente a essa categoria, o dos “invisíveis”, deve sofrer queda de até 37% da renda, caso o benefício não seja viabilizado. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgado na terça (23) revela ainda que, mesmo com o auxílio, a renda deve ficar quase inalterada para esse grupo.

Segundo os autores da pesquisa, Lauro Gonzalez e Leonardo Oliveira, esses trabalhadores classificados como “invisíveis” são os contemplados com o auxílio emergencial no passado que usualmente não recebem o Bolsa Família ou o benefício de prestação continuada (BPC). Como um todo, a categoria corresponde aos que afirmam trabalhar sem carteira assinada, trabalhadores autônomos e familiares auxiliares.

No cenário pessimista, com um auxílio de R$ 200, como pretendem Jair Bolsonaro e Guedes, os invisíveis teriam alta na renda de 5% (homens) a 11% (mulheres). No caso dos informais, as variações seriam de -2% e +2%, respectivamente. Sem o benefício, as quedas ficariam entre 28% (mulheres dentro da categoria invisíveis) e 37% (mulheres no grupo informais). Para os homens, as perdas seriam de 23% e 30%, respectivamente.

Na outra ponta das simulações do estudo, com cenário otimista da pandemia e auxílio de R$ 250, o aumento de renda seria de 18%-23% (homens e mulheres invisíveis, respectivamente) a 17%-25% (homens e mulheres informais, respectivamente).

“Cumpre salientar que a existência de um grande contingente de trabalhadores na informalidade decorre de mudanças no mundo do trabalho que precedem a pandemia. Daí a necessidade de aprimorar as políticas de transferência de renda em caráter permanente”, completaram Lauro Gonzalez e Leonardo Oliveira.

Outro estudo, de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), da Universidade de São Paulo (USP), descreve as contribuições do auxílio para a economia brasileira no ano passado. Intitulado ‘Quão mais fundo poderia ter sido esse poço? Analisando o efeito estabilizador do Auxílio Emergencial em 2020’, o estudo demonstra que, com um gasto equivalente a 4,1% do PIB de 2020, o auxílio foi responsável por evitar que a economia caísse entre 8,4% e 14,8%.

“As pessoas que estavam desempregadas e receberam o auxílio reverteram esse dinheiro em consumo. Por exemplo, compraram alimentos em um mercadinho. Então, o mercadinho, vendo que a demanda cresce, contrata mais pessoas. Essas pessoas contratadas também vão consumir, gerando mais renda, e assim por diante. Esse é o mecanismo do efeito multiplicador”, explica o mestre em Teoria Econômica Matias Cardomingo, um dos autores do texto ao lado de Marina Sanches e Laura Carvalho.

Para o pesquisador, Bolsonaro recorre novamente ao auxílio porque não foi capaz de estabelecer outras medidas de enfrentamento às crises econômica e sanitária. “O governo não fez o mínimo para que as pessoas voltassem a sair de casa, que é a vacinação. A vacina é a resposta para a gente conseguir superar essa pandemia.”

Fonte: Agência PT