Governo subnotifica mortes de profissionais de Saúde por Covid-19

Número “oficial” de mortos seria de 470 trabalhadores, mas CFM e Cofen falam em 1.197 óbitos

O governo Jair Bolsonaro mente ao informar o número de casos e de mortes por Covid-19 entre profissionais de Saúde. Dados do Ministério da Saúde apontam que apenas 484.081 trabalhadores foram contaminados até 1° de março. O número “oficial” de mortos seria de 470 pessoas – uma morte a cada 19 horas.

Porém, de acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina) e o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), os dados do governo estão subnotificados. As entidades contabilizam a morte de 551 médicos e 646 enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem. São 1.197 óbitos ao todo – um óbito a cada sete horas e meia.

Os conselhos também denunciam que, entre os quase 6,65 milhões de trabalhadores da Saúde, a taxa de infecção pelo novo coronavírus é de 7,3%, contra 5% da população em geral. Só a taxa de letalidade (quantidade de pessoas que morrem em relação à quantidade de casos confirmados da doença) é que é menor. Enquanto na população em geral o índice é de 2,4%, entre os profissionais da saúde ele fica em 0,1% (segundo o ministério) ou 0,3% (de acordo com os conselhos de classe).

A discrepância tem explicação. Entre os profissionais de saúde, a testagem é maior – o que possibilita o tratamento mais ágil e reduz a letalidade. Em contrapartida, a letalidade na população está muito alta porque há poucos testes.

O levantamento do Ministério da Saúde usa de duas bases de dados: SIM (Sistema de Informação de Mortalidade), que se abastece da declaração de óbito, e o Sivep-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe), no qual o campo de ocupação não é de preenchimento obrigatório. Os dados de 2020 ainda podem sofrer alterações. Por isso, os números oficiais não retratam a realidade.

Dados da Anistia Internacional mostram que 17 mil profissionais morreram em 2020 no mundo por causa da pandemia. Mas ainstituição deixou de comparar dados dos países porque cada um usa uma metodologia diferente. No Brasil, porém, a instituição utiliza a base de dados do Cofen e do CFM.

Levantamento da Anistia Internacional (AI) de setembro de 2020 registrava a morte de ao menos 634 profissionais de saúde só no Brasil. “A falta de enfrentamento unificado da pandemia, a má aplicação do orçamento da saúde destinado ao combate da Covid-19 e a falta de exemplo de autoridades brasileiras diante de inúmeras recomendações de segurança e proteção foram fatores determinantes para as mortes dos profissionais de saúde e demais pessoas vítimas da doença”, diz Jurema Werneck, diretora-executiva da AI Brasil.

Viviane Camargo, coordenadora da Câmara Técnica de Atenção à Saúde do Cofen, considera o número de óbitos alto e diz que o Brasil lidera esse ranking. Ela atribui os números, além de à exposição direta ao vírus, a problemas com a infraestrutura para enfrentá-lo. O Cofen já recebeu mais de 9 mil denúncias de irregularidades.

Vice-presidente do CFM, Donizetti Giamberardino Filho afirma que os profissionais de saúde estão exaustos fisicamente e psicologicamente. Muitos estão tirando licença por problemas de saúde. A situação se agravou com a falta de leitos, equipamentos de proteção, respiradores e medicamentos para intubação. “A adversidade faz com que o profissional corra mais risco. Quando há mais infraestrutura, o problema é reduzido.”

Com informações da Folha de S.Paulo