Lava Jato agiu como partido na defesa da agenda liberal contra Lula

Troca de mensagens entre Deltan e procuradores prova que objetivo da Lava Jato foi tirar Lula das eleições e eleger políticos de “agenda liberal”

Novas mensagens de celular trocadas entre Deltan Dallagnol e outros procuradores da Lava Jato comprovam que os membros da operação atuaram como um partido político que tinha como finalidade retirar o ex-presidente Lula do cenário eleitoral e ajudar a eleição de candidatos que fizessem a defesa da “agenda liberal”.

Mais chocante ainda: para colocar em prática sua estratégia, os procuradores buscavam contar com recursos de empresas que eram alvo da Lava Jato, especialmente a construtora Odebrecht.

As mensagens que comprovam essa atuação foram apreendidas na Operação Spoofing, da Polícia Federal, e, após serem analisadas pela defesa de Lula, foram encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (9).

A atuação político-partidária da Lava Jato fica clara em várias mensagens. Em uma delas, de 26 de outubro de 2017 (um ano antes das eleições gerais), Deltan Dallagnol narra como articulou com movimentos de direita a produção de uma lista de “políticos em quem não votar” e o uso de “instrumentos de mídias sociais” para realizar campanhas contra eles em um “raio de 100km das cidades que são seus redutos eleitorais”.

Com o mesmo grupo, Deltan elaborou “uma frente por renovação, que aglutinará entidades da sociedade civil que concordem com uma agenda liberal sem protagonista”. Em seguida, informou aos colegas no grupo do Telegram: “Estão desenvolvendo a agenda e juntarão uma série de entidades que apoiarão candidatos com condições de se eleger e que se comprometam com a agenda”.

Segundo afirmam os advogados de Lula no documento enviado ao STF, dirigido ao ministro Ricardo Lewandowski, fica comprovado que os procuradores tinham visão política contrária à do PT e estavam dispostos a fazer com que outra corrente vencesse as eleições que ocorreriam no ano seguinte, sempre com a participação do ex-juiz Sergio Moro.

“A ‘lava jato’ se arvorou no direito de definir quem poderia ser candidato e quem não poderia ser candidato no país, em atividade claramente estranha às atribuições de membros do Ministério Público e aos preceitos e fundamentos estruturantes da Constituição da República”, escrevem os advogados na petição. “O antagonismo político da ‘lava jato’ com o Reclamante e a atuação político-partidária de seus membros para eleger ‘candidatos que se comprometam com a agenda’ da própria ‘lava jato’ é de clareza solar de acordo com os novos documentos analisados”, completam.

A preocupação em alterar os rumos da eleição foi uma constante da Lava Jato, com o tema sendo recorrente na troca de mensagens. Em 8 de fevereiro de 2018, Dallagnol ressaltou para os colegas que deveriam intensificar a campanha de divulgação das 10 medidas contra a corrupção como forma de afetar as eleições. “O tempo até as eleições é curto”, disse, acrescentando mais à frente: “Quatro meses para atingir o país é pouquíssimo tempo”.

Dinheiro da Odebrecht

Sem limites em sua ousadia, a Lava Jato traçou a estratégia de adquirir o dinheiro para financiar seu projeto político com empresas que eram seus alvos, como a construtora Odebrecht. Diálogos ocorridos em 27 de outubro de 2017, por exemplo, mostram Deltan Dallagnol expondo a ideia de “sugerir” à Odebrecht a contratação de consultorias indicadas pela Lava Jato, “em atenção a cumprir o acordo de colaboração”.

Segundo os advogados de Lula, o conjunto de mensagens “mostra o plano da ‘lava jato’ de usar de instrumentos legais para impor penalidades a pessoas e a empresas, como os acordos de colaboração, para viabilizar o projeto (político)”.

Nesta parte do requerimento, a defesa do ex-presidente conclui: “É preciso dizer mais sobre o caráter ilegítimo dos processos envolvendo o Reclamante (Lula)? É preciso dizer mais para demonstrar o lawfare?”, ou seja, o uso da Justiça como ferramenta de perseguição a Lula.

Fonte: Agência PT