O Brasil está cometendo suicídio coletivo na pandemia, diz jornalista

Segundo Marília Fiorillo, a sociedade está cometendo suicídio coletivo e tendo a morte calculada pela ausência de políticas públicas efetivas de combate ao vírus

A professora da Escola de Comunicação e Artes da USP, Marília Fiorillo, comentou a grave situação da pandemia no Brasil. Para ela, a sociedade está cometendo suicídio coletivo e ela lamenta a ausência de políticas públicas de combate ao vírus. O Brasil já conta com mais de 270 mil vidas perdidas e 11 milhões de casos confirmados.

Conforme Marília, “o Brasil está morrendo de morte calculada”. E esse filme de horror ganha a cada dia novos capítulos, com Unidades de Terapia Intensiva (UTI) lotadas e pessoas morrendo asfixiadas em filas de espera. Os índices de contágio e morte disparam e formam-se correntes de oração com pessoas ajoelhadas em torno de hospitais pedindo um milagre.

“Muito se fala, com razão, da responsabilidade da autoridade maior do País, da ausência de políticas sanitárias, não se comprou vacina a tempo, não se testou em massa, chamou-se os usuários de máscaras de maricas. O Brasil está morrendo também por suicídio”, afirma.

Ela avalia que existe um constrangimento em falar do negacionismo da sociedade brasileira. Marília não fala da população mais vulnerável que precisa sair para trabalhar, botar feijão na mesa, e não dispõe de auxílio emergencial para se proteger do vírus. “Estou falando daqueles que decretaram no Natal, Ano Novo e Carnaval, que não havia pandemia”, completou.

Marília ainda cita o sociólogo Emile Durkheim, ao descrever esse tipo de suicídio coletivo como anômico, quando a desagregação das instituições valores e senso de comunidade chega ao cúmulo. Ela citou pessoas ricas que se contaminaram em “regabofes e resortes”, assim como a mulher que disse que não pode deixar de frequentar restaurantes finos.

“São pessoas que pagam planos de saúde caríssimos, mas que não percebem que, a partir de agora, hospitais top e SUS são a mesma coisa. Hoje, não há vaga em nenhum deles”, afirmou. Para ela, nesse momento da pandemia, começa a haver um “igualitarismo na morte” que não respeita mais classes sociais.

Meias medidas

Ela observa que os cientistas e especialistas apelam em desespero para a implantação de medidas rigorosas de quarentena que se mostraram eficazes em países como Coreia do Sul, Indonésia, China, Nova Zelândia e Portugal. “No Brasil, pedir às pessoa que tenham consciência ou refreiem a sua ânsia de festejar ou frequentar cultos seria cômico se não fosse desesperador. A maioria não quer ouvir ou ver. A planície repete o planalto”.

Para a jornalista e escritora, o Brasil está morrendo de meias medidas. As vacinas em quantidade e velocidade suficientes vão demorar, apesar de o País ter uma capacidade via Sistema Único de Saúde de imunizar até um milhão de pessoas por dia.

O lockdown, medida que seria a mais eficaz no momento, de acordo com especialistas, é feito de forma parcial e, no fim, não resolve a situação: “Isolamentos parciais são inócuos, além de chegarem tarde. Chamar um lockdown de parcial é a mesma coisa que dizer que uma mulher está meio grávida. Um absurdo lógico. Ou se instaura um lockdown já, para valer, ou não haverá covas suficientes nesta terra radiosa, como dizia Paulo Prado, onde vive um povo cada vez mais triste”, finaliza Marília.

Edição da coluna Conflito e Diálogo da Rádio USP