Bolsonaro é desafiado a ser coveiro para ter noção da real situação

Líder do setor funerário desafia presidente a cavar covas “só por um dia, para ter a real noção do que está acontecendo no Brasil”

Cemitério em Manaus (Foto: Bruno Kelly)

Lourival Panhozzi está exausto. O presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abradif) junta-se a cientistas, pesquisadores e profissionais da área médica para alertar que o Brasil vive à beira de um colapso devido ao descontrole no número de óbitos por Covid-19. Indignado com a falta de comando nacional, atacou o não presidente Jair Bolsonaro.

“Bolsonaro disse que não é coveiro, né? Convido a ser coveiro para ficar um dia numa funerária. Só um dia, para acompanhar as famílias que estão perdendo parentes, para ter a real noção do que está acontecendo no Brasil. Não estamos sepultando urnas, estamos sepultando pessoas”, desabafou durante entrevista à rede CNN Brasil.

O líder da categoria aludiu ao episódio ocorrido em 20 de abril do ano passado. Naquele dia, um jornalista perguntava sobre os números da Covid-19 no Brasil, que já registrava mais de duas mil mortes e 40 mil casos, e Bolsonaro o interrompeu grosseiramente: “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de… eu não sou coveiro, tá?”

“O nosso setor está sendo testado ao limite. Várias regiões já estão trabalhando em sua capacidade máxima. E, se não forem tomadas medidas urgentes de contenção contra o descontrole no aumento de casos, nós vamos ter um cenário muito preocupante”, avisou o líder da Abradif.

Segundo Panhozzi, o Brasil tinha, antes, uma média de 100 mil óbitos por mês, mas o número se elevou muito em todo o país, principalmente no estado de São Paulo, e em algumas regiões já dobrou. “Em Mogi eu fazia sete óbitos por dia. Ontem fiz 23 em um dia”, afirmou na quinta (12) à noite, enquanto Bolsonaro, em sua live, explorava de maneira sórdida a tragédia de um suicídio para atacar medidas de distanciamento social.

“Caixão não é nossa única preocupação. Hoje mesmo soltamos uma nota pedindo às funerárias que suspendam as férias de todos. Os fabricantes não estão conseguindo nem matéria-prima para produzir as urnas”, informou. “Esse descontrole precisa parar. Se não for cortado, em mais 30, 40 dias estaremos em uma situação muito difícil.”

Ele acrescentou que, em 44 anos de trabalho, nunca tinha visto “uma tristeza tão reprimida, tão grande nas famílias”. “Estamos à beira do colapso. Estamos suportando, temos limites, mas é bom que a sociedade não teste o nosso limite”, finalizou.

Fonte: Agência PT