Unegro é referência para ascensão da luta antirracista no Brasil

Ângela Guimarães, presidenta da União de negros pela igualdade (Unegro), afirma em entrevista ao Portal Vermelho que luta antirracista vive momento de ascensão. Ela destaca uma nova geração de dirigentes da entidade e denuncia que a pandemia penalizou população negra

Angela Guimarães

A União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) completa 33 anos neste ano de 2021. A luta antirracista não era consenso entre a esquerda brasileira à época da fundação da entidade. “Quando a Unegro foi fundada a luta contra o racismo era vista ainda com desconfiança pelo conjunto geral da sociedade e mesmo entre a esquerda que, por sucessivas vezes atribuía, ao movimento negro, assim como aos movimentos feminista e LGBTs, a tentativa de dividir e enfraquecer a luta geral da classe trabalhadora por sua emancipação”, disse Ângela Guimarães, presidenta nacional da Unegro.

Em entrevista ao Portal Vermelho, a dirigente, eleita em 2016 para o cargo, destacou a Unegro como uma das entidades que consolidou a luta antirracista no Brasil. “Em três décadas, a Unegro persistiu na resistência negra e denúncia do racismo, na criminalização do racismo na Constituição, na proposição e implementação das políticas afirmativas e legislação antirracismo, na persistente denúncia do genocídio da população negra, feminicídio das mulheres negras, violência política que tenta nos calar, a sub-representação da população negra nós espaços de poder, dentre outras reivindicações que expõem a dureza da perversa combinação do racismo com o sexismo sob o capitalismo dependente e periférico brasileiro”.

Ângela também enfatizou a renovação dos quadros dirigentes da entidade. “Demonstra a atualidade da luta antirracismo e da Unegro como instrumento revolucionário desta luta que inclui a denúncia do racismo como se expressa no cotidiano da população negra brasileira, bem como a luta pela superação do sistema político e econômico que estrutura e atualize essas contradições de gênero, raça e classe”, analisou.

Neste domingo, 21 de março, é o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. Na mesma data em 1960, 69 pessoas foram assassinadas e mais 186 feridas na província Sul-africana de Shaperville em um protesto pacífico contra a lei que impunha restrições e segregava a circulação da população negra. “Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, os movimentos antirracistas fazem referência a esta data denunciando a persistência e atualidade do racismo e conclamando a população a se mobilizar, denunciar o racismo e exigir políticas de reparação e inclusão da população negra”, explicou Ângela.

Pandemia e vidas negras

“Uma tempestade dramática sobre a vida das pessoas negras no Brasil”, definiu Ângela quanto ao impacto da pandemia do coronavírus sobre a população negra. Segundo ela, a Unegro foi uma das entidades que, ao lado de diversas organizações, lançou no início da pandemia um conjunto de documentos ao poder público. O objetivo era o de evitar que negros e negras se tornassem os mais atingidos pela Covid-19. Um ano depois, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que 55% dos pacientes negros, hospitalizados com Covid-19 em estado grave, morreram em comparação com 34% dos pacientes brancos.

“O movimento apontou que essa pandemia seria ainda mais perversa para uma população que já não conta com condições dignas de existência. Moramos nas piores habitações, temos os piores empregos, a pior remuneração. Somos campeãs e campeões de desemprego e aqueles com mais dificuldade de acesso ao sistema público de saúde”, enfatizou Ângela.  Ela lembrou ainda que negros e negras também serão os últimos vacinados. “O sintoma do racismo estrutural e institucional não considerou como prioritário na hora da vacinação o segmento ocupado por negros e negras”.

Ascensão da luta antirracista

As eleições municipais de 2020 trouxeram um dado eleitoral inédito no Brasil: Pela primeira vez o número de candidatos autodeclarados negros foi maior que o total de candidatos brancos. Foram 276 mil candidatos negros o que representou 49,95% do total de candidaturas. Candidaturas brancas somaram 48,04% do total. “O crescimento do debate antirracismo se expressou no processo eleitoral do ano passado através de candidaturas individuais e coletivas com representantes da população negra especialmente jovens mulheres negras”, destacou Ângela.

Na opinião da dirigente, esse dado eleitoral reflete a ascensão da luta antirracista que testemunhamos atualmente. “Tem se transformado em uma luta de massas, que perpassa as periferias do país que clamam e sangram em defesa da vida, pelo direito ao trabalho e emprego com respeito, dignidade, salário igual pra trabalho igual e sem o racismo obstaculizar a nossa inserção e ascensão profissional”, completou.

Angela Guimarães, presidenta da Unegro – reprodução

“A Unegro é parte deste momento de ascensão do combate ao racismo e temos buscado nos conectar a essas novas gerações que se somam à luta. O resultado disso é uma nova geração dirigente na Unegro, seja no plano nacional comigo e outras lideranças jovens que fazem parte da direção Nacional da entidade, assim como lideranças de destaque da entidade nos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Santa Catarina e Amazonas, dentre outros”, comemorou a dirigente.

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