Haroldo Lima, um gigante do tamanho do Brasil

Haroldo desenvolveu um trabalho magnífico na ANP, tendo como ideia-força central direcionar os esforços da agência para ajudar o País a construir um projeto nacional de desenvolvimento

Foi-se Haroldo Lima, não sem resistir. Em sua última batalha, lutou bravamente contra a Covid-19, mal que assola o planeta e que aqui, graças ao inqualificável presidente da República, ganhou status de projeto nacional de extermínio.

Não me atreverei a apresentar a sua rica biografia. No entanto, tive a oportunidade de trabalhar com ele durante exatos 12 meses, na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, na qual ingressei em 2001 justamente para coordenar a produção do balanço de sua gestão – dois anos como diretor e outros seis como diretor-geral.

Haroldo desenvolveu um trabalho magnífico na ANP – que, como as demais agências reguladoras, nasceu sob a égide das privatizações da era FHC. No entanto, o setor de petróleo e gás, diferente de outros, não havia sido privatizado. Houve, sim, a quebra do monopólio da Petrobras na exploração e produção do “ouro negro”. À época, a resistência política e social barrou a sanha privatista de abocanhar a empresa (que voltou com apetite voraz após o golpe parlamentar-midiático-conservador que derrubou Dilma e gestou Bolsonaro).

A ideia-força central que conduziu o trabalho de Haroldo Lima na ANP foi a de direcionar os esforços da agência para ajudar o País a construir um projeto nacional de desenvolvimento, dentro dos marcos legais que circunscrevem a atuação de tal instituição.

Em sintonia com o governo Lula, entre 2007 e 2010, Haroldo e outros diretores e técnicos da ANP foram essenciais nos debates que culminaram na criação do marco regulatório do pré-sal. As três leis que mudaram o regime legal do petróleo tinham objetivos claros: garantir o controle da Nação sob a exploração das extensas jazidas da bacia de Santos, destinar seus lucros para educação e saúde e fortalecer a Petrobras.

Dentro de sua concepção desenvolvimentista também cabia um sonho: o de consolidar um mercado nacional de exploração e produção de petróleo e gás, com a presença de muitas empresas de origem brasileira de pequeno e médio porte (para a dimensão dessa indústria gigantesca, é claro) prospectando a imenso potencial petrolífero do país, que conhece menos de 10% do seu subsolo. A Petrobras, nave mãe da indústria, continuaria a desenvolver o papel de empresa multinacional brasileira de ponta e de exploração da nossa imensa reserva marítima.

Ao pulverizar a exploração pelo território nacional, Haroldo acreditava que seria possível descentralizar a extensa e complexa cadeia produtiva do setor, promovendo geração de empregos, renda e desenvolvimento às novas fronteiras exploratórias. Por isso, sua gestão na ANP apostou no fortalecimento das obrigações das operadoras em adquirir produtos e serviços produzidos no Brasil – as regras de conteúdo local –, investiu na modernização da pesquisa geológica da agência e estimulou políticas de incentivo à pesquisa e o ao desenvolvimento no setor.

A combinação dessas atividades geraria o círculo virtuoso de desenvolvimento da indústria nacional associada à autossuficiência tecnológica e ao desenvolvimento social e econômico. Em resumo, independência e soberania.

A postura firme em defesa das nossas riquezas minerais, do nosso desenvolvimento, do protagonismo do Brasil no cenário internacional, a insistência em construir uma agenda estratégica e ampla para a regulação da cadeia de petróleo, gás e biocombustíveis (atuar “do poço ao posto”, dizia) e torná-la menos suscetível às pressões do mercado são as grandes contribuições do dirigente comunista para a construção de um país soberano, desenvolvido e com autossuficiência energética.

Estes e outros legados de Haroldo Lima, um gigante do tamanho do Brasil, continuarão presentes nos nossos sonhos, resistências e lutas.

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *