Parlamentares exigem punição para assessor “supremacista” de Bolsonaro
Sinal feito por Filipe Martins é o mesmo usado por movimentos supremacistas brancos de extrema-direita. Presidente do Senado determinou que caso seja investigado pela Casa
Publicado 25/03/2021 11:24 | Editado 25/03/2021 11:25
Numa sessão já conturbada no Senado, quando parlamentares cobravam a renúncia do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um episódio envolvendo o assessor internacional de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, roubou a cena. Martins fez um sinal de “ok” durante fala do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O gesto, no entanto, é o mesmo usado por movimentos supremacistas brancos de extrema-direita e causou verdadeiro alvoroço durante a reunião. Os parlamentares pediram apuração do caso e punição de Martins.
“Peço, senhor presidente, que conduza esse senhor [Filipe Martins] para fora das dependências do Senado. Esta sessão não tem condições de ter continuidade. Esse senhor, que ofendeu o presidente do Senado, ofendeu este plenário”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O senador Randolfe Rodrigues classificou o gesto de “obsceno e inaceitável”. “Ele zomba da declaração do presidente da nossa Casa. É inaceitável e insuportável. Não reconhecemos que o tapete do presidente da República chegue ao Senado durante o discurso do Presidente do Senado para nos desrespeitar”, disse.
Mesmo negando a intenção do gesto, em muitos países, a “limpeza de lapela” – justificativa dada pelo assessor de Bolsonaro na ocasião – também é interpretada como símbolo de “Força Branca”, “White Power”, em inglês. O gesto, que se assemelha a um “ok”, é classificado desde 2019 como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação dos EUA.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, solicitou que o caso seja investigado pela Secretaria-Geral da Mesa (SGM) e a Polícia Legislativa da Casa.
Punição
O caso repercutiu na Câmara. Deputados lamentaram a conduta do assessor de Bolsonaro e cobraram a punição de Martins.
“Se for verdade que um assessor presidencial fez um gesto ligado aos grupos supremacistas brancos, em plena audiência no Senado da República, alguém deve ser demitido. Ou ele ou o próprio presidente”, declarou o vice-líder da Oposição, deputado Orlando Silva (PCdoB-BA).
Em suas redes, a vice-líder do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), postou o trecho do vídeo e questionou se o Senado não tomaria atitudes. “Atenção! Durante a fala do presidente do Senado, o assessor especial da Presidência, Filipe G. Martins, faz o símbolo do ódio, usado pelos grupos extremistas e supremacistas brancos. Vai ficar por isso mesmo?”, questionou.
Já a vice-líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), afirmou ser “deprimente ver brasileiro (miscigenado) fazendo gesto de supremacista branco”.
“Como disse o senador Randolfe, não podemos aceitar que um capacho de Bolsonaro faça uma provocação dessa em pleno Congresso Nacional e durante a fala do presidente. Que ele guarde a sua simbologia nazistóide para o esgoto da Internet. O Parlamento ele não vai sujar!”, reagiu o deputado Alencar Braga (PT-SP).
Segundo ele, o assessor de Bolsonaro fez no Senado um gesto que é apontado pela Liga Antidifamação como símbolo do “White Power”, ideologia afim ao nazismo. “Filipe Martins vai responder por apologia ao nazismo, que no Brasil se enquadra no crime de racismo – Lei 7.716/89.”
A líder do PSOL na Câmara, Talíria Petrone (RJ), considerou inadmissível o que aconteceu no Senado. “O assessor internacional de Bolsonaro, Filipe Martins, fez um gesto ligado aos supremacistas brancos. Esse é o tipo de gente que assessora o presidente!”
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) lembrou que outro episódio envolvendo a equipe de Bolsonaro. “Primeiro foi um Secretário de Cultura que plagiou Goebbels. A contragosto do governo, foi demitido. Agora um assessor especial do Bolsonaro faz gesto supremacista em plena sessão do Senado. Não pode ter outro fim, precisa ser imediatamente demitido e responder criminalmente”, alertou.
Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados