Jornais internacionais repercutem mudanças no ministério de Bolsonaro
Jornais da Europa, América do Sul e Estados Unidos noticiam as trocas de funções na equipe de Bolsonaro e consideram que o presidente agiu sob pressão.
Publicado 30/03/2021 11:25
O diário americano Wall Street Journal noticia a reformulação do gabinete de Bolsonaro, ressaltando que a decisão ocorre em meio a crescente raiva pelo número de mortos da Covid-19. “Jair Bolsonaro lutou contra os apelos por seu impeachment, já que as mortes pela doença ultrapassaram 300 mil”, aponta o jornal, em reportagem de Samantha Pearson e Luciana Magalhães.
O britânico Financial Times vai na mesma pegada: Bolsonaro, do Brasil, sacode gabinete enquanto a pressão aumenta por causa do Covid. “Líder de direita corta diplomata e ministro da defesa enquanto país enfrenta segunda onda”, destaca a reportagem de Michael Pooler.
“Com a maior nação da América Latina lutando contra seu pior episódio da pandemia, um dia de renúncias e rumores terminou com uma nova formação para um governo que luta para conter a segunda onda mais mortal da doença”, diz o texto. “Ernesto Araújo, o principal diplomata do país, se ofereceu para pedir demissão na segunda-feira, segundo a mídia local, após telefonemas de legisladores insatisfeitos com os esforços do Brasil para adquirir vacinas contra o coronavírus”.
No francês Le Monde, destaque na capa do jornal sobre a queda da capital econômica do país – “Não sei se São Paulo vai se recuperar”. Em reportagem, o correspondente Bruno Meyerfeld relata que na principal cidade brasileira, as enfermarias dos hospitais de terapia intensiva estão mais uma vez lotadas de pacientes cada vez mais jovens.
“O número de mortes semanais relacionadas ao coronavírus dobrou em um mês”, reporta. São Paulo é a “capital da pandemia”. “Os jovens doentes com corpos torturados são como São Paulo: o pulmão econômico e cultural do Brasil, um colosso de ferro e concreto com 12 milhões de habitantes (o dobro incluindo os subúrbios) hoje está de joelhos e com o coração partido”, diz o texto.
Sobre a mudança no governo brasileiro, Le Monde ressalta que Bolsonaro irritou altos oficiais do exército. “A saída do general Azevedo e Silva ocorre em um momento de grande tensão entre o exército e Jair Bolsonaro”, relata o diário francês. O jornal diz que o país se surpreendeu com a dimensão do movimento anunciado nesta segunda-feira, e em particular com a substituição do Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
“Ao demitir o ministro da Defesa, Bolsonaro queria enviar um sinal a Pujol e aos soldados moderados, que resistem aos seus ataques autoritários”, analisa Mathias Alencastro. “Este general 4 estrelas de 67 anos, com um temperamento plácido, era, pelo contrário, visto como um dos elementos mais pragmáticos do governo no poder”, aponta o jornal. O jornal chama Ernesto Araújo de conspiracionista assumido e “coronacético” e trumpista de coração era da ala mais obscurantista do poder bolsonarista. “Com a eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos, sua saída dos palcos tornou-se inevitável”, escreve o correspondente.
O diário espanhol El País informa que a renúncia de dois ministros abre a maior crise do governo Bolsonaro em meio a uma pandemia. “O presidente troca os titulares de seis carteiras após as renúncias em Relações Exteriores e Defesa”, sublinha o jornal. “O militar foi demitido abruptamente por Bolsonaro após declarações de um subordinado à imprensa sobre os benefícios do isolamento social, a máscara e depois de prever uma terceira onda”. O periódico apresenta Araújo, como “fervoroso anticomunista e trumpista”, e considerado “o maior responsável pelo fato de o país não ter conseguido comprar na China e em outros mercados as doses suficientes para realizar uma vacinação em massa”.
O argentino Clarín destaca o aprofundamento da crise política no Brasil. Acuado pelo descontrole do coronavírus, Jair Bolsonaro trocou 6 ministros, incluindo chanceler – destaca a manchete do jornal. “Antes, o chanceler Ernesto Araújo havia renunciado. Além do polêmico chanceler, ele destituiu os chefes de Defesa, Justiça, Casa Civil, Chefe de Governo e o Advogado Geral da República. O presidente, portanto, cede aos seus parceiros centrais”, aponta.
“O presidente do Brasil procurou, assim, dar uma demonstração de autoridade com uma forte mudança em seu gabinete. A ação de Bolsonaro surpreendeu o mundo militar, principalmente porque o presidente se irritou com a posição do chefe do Exército, general Edson Pujol, a favor da quarentena”, informa o jornal.
Página 12 dá destaque às mudanças no gabinete de Bolsonaro na capa da edição desta terça-feira, apontando que o presidente brasileiro está “encurralado”. “A reforma ministerial ocorre quando o presidente de extrema direita se vê encurralado pela pandemia que custou a vida a pouco menos de 314 mil pessoas e infectou 12,5 milhões no Brasil”, escreve o correspondente Dario Pignotti. “Nesta segunda-feira, dois dias antes do aniversário do golpe de 1964, que certamente será evocado com elogios, foram anunciadas tantas e tão repentinas mudanças que é difícil avaliá-las como um todo”.
Os diários alemães Frankfurter Allgemeine Zeitung e Sueddeutsche Zeitung também noticiam a reforma ministerial e apontam que a “drástica medida do presidente (Bolsonaro) provavelmente está relacionada à sua política devastadora para o coronavírus”. Diz o texto nos dois jornais, a partir de despacho da agência alemã de notícias DPA: “Bolsonaro ficou sob pressão crescente há cerca de uma semana, quando o Brasil registrou pela primeira vez mais de 3.000 mortes por corona em 24 horas e ultrapassou a marca de 300.000 mortes por corona no total. Ele minimizou os perigos da Covid-19 desde o início. Em nenhum outro país tantas pessoas morrem todos os dias em decorrência da doença como no Brasil”.