Ministro da Defesa é convocado a depor na Câmara

Oposição deve aproveitar o momento para questionar o risco de uso das Forças Armadas para uma escalada golpista no País

Dois dias depois de Walter Braga Netto assumir o Ministério da Defesa, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (31), a convocação do novo ministro para dar explicações sobre irregularidades e uso político das Forças Armadas. Braga Netto substituiu no cargo Fernando Azevedo e Silva, que insinuou uma tentativa ilegal de ingerência do presidente Jair Bolso Bolsonaro no Exército, na Matinha e na Aeronáutica.

O motivo oficial da convocação à Câmara é a compra superfaturada de picanha e cerveja para os militares – mas a oposição deve aproveitar o momento para questionar o risco de uso das Forças Armadas para uma escalada golpista no País. Seja qual for o desemprenho do ministro perante os deputados, seu depoimento já é uma derrota do governo. Em geral, a base governista consegue transformar convocação (que é obrigatória) em convite (geralmente ignorado pelos ministros).

Braga Netto é o primeiro ministro da Defesa a ser convocado por uma comissão regular da Câmara. Ainda não está claro por que o governo mobilizou aliados para impedir a votação simbólica da convocação. Na opinião de parlamentares, mais do que um “cochilo” dos bolsonaristas, houve um recado da base de que a interferência política nas Forças Armadas não será aceita tranquilamente.

Na segunda-feira (29), Bolsonaro demitiu Azevedo, que é da ala mais moderada dos militares e criticava as investidas do presidente para politizar as Forças Armadas. No dia seguinte, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica – que tinham colocado o cargo à disposição, em solidariedade a Azevedo – foram demitidos juntos.

Único governista presente à sessão na hora, o deputado Hildo Rocha (MDB-MA) disse que o governo não procurou ninguém para barrar o requerimento. “Vai ser um desgaste muito grande para o ministro e para as Forças Armadas”, afirmou. “O autor do requerimento falou que tem denúncias gravíssimas de superfaturamento, de direcionamento de licitação para membros da mesma família”

O ministro marcou a audiência para o fim do prazo de 30 dias, em 28 de abril, o que deve dar tempo para que esfrie a crise política em torno das Forças Armadas. Autor do requerimento, contudo, o deputado Elias Vaz (PSB-GO) afirmou que cobrará explicações.

“Quando o ministro vem aqui, as perguntas são livres e há suspeita gravíssima de tentativas de ruptura democrática”, disse. O motivo da convocação é a compra de 80 mil latas de cerveja e “indícios claros” de superfaturamento de itens como picanha (comprada, segundo Vaz, a R$ 84 o quilo). “São preços claramente superfaturados.”

Com informações do Valor Econômico