Operadores do clã Bolsonaro brigam entre si na disputa por influência

Segundo a reportagem da Folha de S.Paulo, virou rotina a briga por espaço entre empresários, advogados e publicitários em torno do clã Bolsonaro, sobretudo depois dos quatro filhos passarem a ser investigados

Ilustração: Aroeira

Integrantes da cúpula da Aliança pelo Brasil, partido de Bolsonaro, o empresário Luís Felipe Belmonte, vice-presidente, e a advogada Karina Kufa, tesoureira da legenda, protagonizam disputa para quem tem maior influência sobre o presidente Bolsonaro. Segundo fontes ouvidas pelo jornal Folha de S.Paulo, um culpa o outro pelo fato de o partido não sair do papel.

A reportagem insinua que virou rotina a briga por espaço entre empresários, advogados e publicitários em torno do clã Bolsonaro, sobretudo depois dos quatro filhos passarem a ser investigados.

“O presidente Jair Bolsonaro tem à sua disposição auxiliares que defendem a família juridicamente em crises, oficial ou extraoficialmente, além de atuar para viabilizar seus interesses. Sem remuneração ou cargos oficiais, eles ganham acesso ao governo e prestígio no mundo externo, ao ostentar a relação próxima ao presidente. Também brigam entre si na disputa para ver quem tem mais influência sobre a família”, diz a reportagem.

O empresário Belmonte, por exemplo, aproximou-se de Bolsonaro por intermédio de Karina, hoje eles só falam o necessário entre si. Segundo pessoas próximas, com o partido empacado e sem as assinaturas necessárias para sair do papel, Belmonte acusa Karina de deixar a Aliança de lado e diz que ela não tem mais acesso ao governo. Karina afirma que é justamente o oposto: diz que ainda advoga em nome do presidente em 17 ações cíveis, eleitorais e criminais. Procurada pela Folha, ela não quis se manifestar.

Uma das ações sob sua responsabilidade é a que trata do suposto caixa 2 na campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018, com a contratação de serviço de disparo de mensagens de WhatsApp. O processo, que tramita no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), pode gerar a cassação do presidente. A advogada sustenta que não há provas da acusação.

Filho 04

Belmonte, advogado milionário, ajudou o filho 04 do presidente, Jair Renan, a abrir sua empresa, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia. Para isso, apresentou Renan ao presidente do Arena BSB, Richard Dubois, que administra o estádio Mané Garrincha, onde se situa a empresa.

O ex-parceiro de negócios do filho de Bolsonaro, Allan de Lucena, alega que o vice-presidente da Aliança também ajudou financeiramente o empreendimento com o pagamento da arquiteta que projetou o escritório. Belmonte nega.

“Eu recebo pedidos de ajuda de muitas pessoas. Quase sempre envolve pedido de ajuda financeira. Inclusive cuido de alguns projetos sociais. Podendo ajudar eu ajudo, mas nem sempre posso”, afirmou Belmonte. “Não preciso desse tipo de ajuda para me aproximar do presidente. Minha relação com ele está ótima.”

O advogado Frederick Wassef, que defende o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das “rachadinhas”, é outro que voltou a ter influência no clã após ter passado um tempo afastado desde a prisão de Fabrício Queiroz na sua chácara.  

Ele também alega que faz a defesa do 04. “Não tem carro algum. Ele não representou empresa. Não existe contrato com o governo federal. Não tem nada nessa investigação”, disse ao jornal.

Segundo a reportagem, entre os advogados mais próximos da família Bolsonaro, há uma corrida acirrada em andamento: influência na indicação que o Palácio do Planalto fará de nomes para recompor tribunais como o STJ e o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), ambos com sede em Brasília.

“O único desse grupo com cargo no governo é Joel Novaes da Fonseca, assessor especial da Presidência e também integrante do diretório da Aliança. O funcionário, que trabalhou na Câmara dos Deputados para Jair Bolsonaro, em 2016 e 2018, e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em 2015 e 2017, também apareceu no recente caso envolvendo o filho 04”.

Vice-presidente do PSL, o advogado Antonio Rueda também figura na lista dos influentes no entorno presidencial. Cuida do diálogo do clã Bolsonaro com o partido. ​Apresentou Flávio a figuras influentes de Brasília, como o ministro e ex-presidente do STJ João Otávio de Noronha, que já deu decisões favoráveis ao senador.

Rueda conversou com Bolsonaro sobre a possibilidade de o presidente retornar ao PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018. “O presidente Jair Bolsonaro já esteve nas fileiras do PSL”, disse Rueda à Folha. “Não vemos nenhum problema em discutir a filiação ou refiliação de quem quer que seja, desde que se alinhe aos protocolos, estatutos e normas do nosso partido.”

Com informações da Folha

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