Antipetismo recuou e Bolsonaro não irá ao 2º turno em 2022, diz Kassab

Ex-ministro prevê “um antibolsonarismo – uma disposição antigoverno que não existiu na eleição passada”

A crer nas previsões do ex-prefeito de São Paulo, ex-ministro e presidente do PSD, Gilberto Kassab, a próxima eleição presidencial será muito diferente da última, realizada em 2018. Embora seu partido integre o Centrão – principal base governista no Congresso Nacional –, Kassab avalia que o presidente Jair Bolsonaro não deve ir sequer ao segundo turno em 2022.

Na opinião do político, a pandemia da Covid-19 e o cenário econômico negativo – com desemprego e pressão inflacionária – estancam as chances de reeleição. Em vez de Bolsonaro, Kassab vislumbra no segundo turno o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um candidato de centro.

“O governo federal vai ter de se esforçar para mudar essa visão majoritária do País em relação ao seu desempenho, que será, inquestionavelmente, junto com a perspectiva de novos empregos, o principal fator de observação do eleitor”, afirma. “O eleitor vai observar o que foi feito na pandemia e vai perguntar: ‘será que vou conseguir o meu emprego de volta?’.”

Assim, conclui Kassab, “poderemos ter um segundo turno que tenha um candidato que não seja ele (Bolsonaro) contra o Lula. Acho mais fácil ter um candidato de centro contra o Lula do que ter um candidato de centro contra o Bolsonaro”. A seu ver, o presidente “vai ter de trabalhar muito para reverter sua imagem. O legado vai ser muito ruim, com 500 mil mortos” por Covid-19.

A despeito da gravidade da pandemia, Kassab frisa que o fator emprego pesará ainda mais na determinação do eleitorado brasileiro no ano que vem. “Temos 15 milhões de desempregados. O número indireto de pessoas atinge 60 milhões em um universo de 140 milhões da população (ativa)”, afirma. “Não vou ser leviano de dizer que esse governo não se recupera, mas vai ser difícil – e é uma reversão a médio e longo prazos.”

Sobre o risco de uma nova ofensiva contra o PT e os partidos de esquerda, Kassab relativiza. Em sua opinião, o antipetismo – que marcou a última eleição presidencial – “está suavizado” e é mais provável que o eleitor se volte agora contra a gestão Bolsonaro: “O antipetismo é menor em relação a 2018. Acho que haverá um antibolsonarismo – uma disposição antigoverno que não existiu na eleição passada, porque o Bolsonaro ainda não era presidente”.

Sobre o potencial eleitoral do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), provável pré-candidato à Presidência que se cristalizou como antagonista político de Bolsonaro com embates sobre as vacinas, Kassab faz ponderações. O tucano teria errado a mão ao explorar o sucesso do imunizante Coronavac – vacina que foi desenvolvida pelo Instituto Butantan (ligado ao governo paulista), em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.

Para Kassab, Doria provocou um efeito indesejado na percepção do público com o modo como tratou os êxitos na questão da vacina. “Ele teve muitos acertos, mas, do ponto de vista de performance, entendo que errou na comunicação. Houve um exagero de exposição, uma superexposição, a sua presença constante”, analisa.

Kassab diz que essa percepção seria hoje mais favorável a Doria “se tivesse aparecido mais o Butantan e menos a sua figura”. Não por acaso, a rejeição ao governador é captada em todas as pesquisas de intenção de voto: “É uma realidade, realmente as pesquisas mostram – e não é uma pesquisa só. Em todas a avaliação da sociedade brasileira sobre o seu desempenho não é boa”.

Com informações do Valor Econômico