Repercute no mundo o veto da Anvisa à vacina Sputnik V

Vários órgãos da imprensa repercutiram a decisão da agência reguladora, definida pelo chanceler russo como resultante da pressão dos Estados Unidos contra a vacina russa.

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O site russo Sputnik News traz entrevista com o chanceler da Rússia sobre a proibição da Sputnik V no Brasil: EUA não escondem que exercem pressão. Sergei Lavrov comentou o fato de os EUA terem confirmado que estão fazendo esforços em relação ao Brasil para rejeitar a vacina russa Sputnik V. “Não estou surpreendido com isso. Os norte-americanos não se acanham de estar fazendo este trabalho. Eles não estão escondendo isso”, disse Lavrov.

O português Diário de Notícias traz o desabafo de Lavrov. Há menos respeito entre a Rússia e os Estados Unidos do que nos tempos da Guerra Fria. Apesar disso, o chanceler disse que está disposto a encontrar-se com o homólogo norte-americano. “Acredito que na Guerra Fria havia tensão, é claro, muito séria, houve situações de risco, ocorreram crises. Mas houve respeito mútuo, do qual agora há um déficit”, afirmou Lavrov em entrevista à agência RIA Novosti. O jornal The Moscow Times também destaca a acusação da Rússia de que Brasil fez uma “rejeição política” do Sputnik V.

O britânico Financial Times também destaca a reação do governo russo depois da rejeição da Anvisa. O fundo de riqueza soberana da Rússia que apoia a vacina Sputnik V disse que a decisão do órgão regulador de saúde do Brasil foi politicamente motivada. “Os atrasos da Anvisa na aprovação do Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não têm nada a ver com acesso à informação ou ciência”, alega o Fundo Russo de Investimento Direto.

O jornal lembra que a rejeição ao pedido de importação de vacinas feito por governadores de estado ocorre quando o país está lutando contra a segunda onda da pandemia e enfrenta escassez de suprimentos em sua campanha de vacinação. Em outra reportagem, o Financial Times noticia que “infecções diminuem na Rússia, conforme país aumenta ritmo de vacinação”. As mortes também estão caindo.

O Brasil vai na contramão da vizinha Argentina. O francês Le Monde informa que a Rússia fortaleceu sua influência na Argentina com a vacina Sputnik V. A produção do imunizante russo contra a Covid-19 está prevista para começar em junho no país – que foi o primeiro da região a aprová-la –, inédita na América Latina. “Nós estamos muito animados. Será uma grande oportunidade de avançar no combate à pandemia, não só na Argentina, mas também na América Latina”, saúda o presidente argentino, Alberto Fernández, marcando uma nova etapa das relações diplomáticas com a Rússia, mais vigorosa do que nunca desde a pandemia.

A proibição da Anvisa à Sputnik é tema de reportagem do Washington Post e do Wall Street Journal – sem a posição da Rússia – destacando que os reguladores de saúde emitiram crítica severa à vacina Sputnik V, rejeitando a aprovação em uma decisão que pode afetar seu uso em outras partes do mundo. “A Anvisa citou uma série de preocupações com o desenvolvimento e produção da vacina, incluindo o que dizia ser a falta de dados de controle de qualidade e eficácia, além de pouca ou nenhuma informação sobre os efeitos adversos da vacina”, informa o jornal. “Não foi a primeira vez que autoridades de saúde levantaram preocupações sobre a Sputnik V, que foi saudada como ‘segura’ e mais de 91% eficaz em um artigo na Lancet, em fevereiro”.

No Brasil, Fernando Brito comenta, no blog Tijolaço,  a decisão da agência reguladora de saúde: “A Anvisa recusou (o que é direito dela e não teria sentido dizer se está certa ou errada) as vacinas Sputnik, aprovada em meia centena de países como se tratassem de ampolas de água suja infectadas”, observa. “E os russos reagiram, como também era seu direito, dizendo que não querem mais vender ao Brasil e ainda culparam a informação (verídica, aliás) de que a diplomacia norte-americana, sob Trump, havia feito pressão sobre nós para não deixarmos entrar a Sputnik”. E finaliza: “Estamos forçando a sorte e conseguimos, neste momento, estar mal com as três maiores potências mundiais: EUA, China e Rússia, além de Alemanha, França…”

A Rede Brasil Atual noticia a reação do fabricante da Sputnik: Anvisa mente e recusa da vacina ‘é de natureza política’. Segundo o fabricante do imunizante da Rússia, equipe da agência brasileira em Moscou “teve pleno acesso a todos os documentos relevantes” e situação decorre de pressão dos Estados Unidos.

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