Ex-presidente do Inep diz que ministro foi “totalmente omisso” no Enem

Alexandre Lopes acusou o ministro Milton Ribeiro de agir com covardia durante a organização do exame. Marcus Rodrigues, 1º presidente do Inep na gestão Bolsonaro, também criticou o chefe da pasta

O presidente do Inep, Alexandre Lopes, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o delegado Cleo Matusiak Mazzotti, participam da entrevista coletiva sobre o primeiro dia de provas do Enem 2020 | Foto: Marcello Casal Jr/AgBR

O ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, concedeu uma entrevista ao jornal O Globo e acusou o ministro da Educação Milton Ribeiro de omissão na organização do Exame Nacional do Ensino Médio 2020 (Enem). Desafeto do pastor e ministro Ribeiro, Lopes condenou a atitude “com covardia” do chefe da pasta de Educação durante a realização do exame em meio à pandemia de Covid-19.

Lopes foi exonerado do cargo pelo ministro após a realização das provas em janeiro e fevereiro deste ano, que foram duramente criticadas por problemas nos protocolos de segurança e tiveram recorde de abstenções. O ex-presidente do Inep decidiu se manifestar após a atual gestão do órgão publicar uma nota criticando medidas implementadas por Alexandre Lopes.

No primeiro dia de prova, estudantes relataram que não havia vagas para todos nas salas de aulas e o distanciamento mínimo não era respeitado. Lopes afirma que tentou marcar uma reunião com Milton Ribeiro diversas vezes, mas recebeu respostas evasivas de secretários. “O Enem acontecendo no Brasil, em meio a uma pandemia, com todas as dificuldades, e o ministro se recusou a me receber”, disse Alexandre Lopes ao O Globo.

Preocupado com o número de abstenção e com a logística para a reaplicação da prova em Manaus, que teve o exame adiado devido à segunda onda de Covid-19, o então presidente do Inep continuou enviando mensagens para o ministro em busca de respostas. “Ele simplesmente me respondeu ‘ok, vai dar certo’. Foi essa a orientação dele para mim. Foi omisso. O ministro simplesmente fugiu do Enem”, revelou Lopes. “O impacto prático é que eu tive que tomar as decisões sozinho em relação ao Enem”, completou o ex-presidente do Inep.

Lopes ainda afirma que o orçamento para a organização do Enem era muito inferior ao ideal e foi preciso muito trabalho para realizar as provas. Em duras críticas ao ministro, Lopes disse que Ribeiro “foi omisso, totalmente omisso” e que “ao contrário da covardia e da incompetência do ministro Milton Ribeiro, se eu fosse ele, ano passado não tinha Enem.”

Ex-presidente do Inep em coletiva de imprensa ao lado do ministro da Educação Milton Ribeiro | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As omissões impactaram no quadro administrativo do órgão. Lopes afirmou que havia “várias questões administrativas paradas há meses que eu falei que estavam gerando problemas para o Inep”. O gestor citou como exemplo a demanda por 25 analistas na Comissão Técnica de Avaliação (CTA), que foi repassada para o ministro e que não teve resposta por seis meses.

A intenção do ministro Milton Ribeiro, na análise de Lopes, era se eximir de qualquer responsabilidade em relação ao Enem. “Acho que ele queria, com covardia, (passar a ideia que) ‘não tenho nada a ver com esse negócio do Enem. Deu errado, eu estava alheio. Ninguém me falou nada’.”

Para o Enem de 2021, previsto para novembro, as dificuldades ainda se mantém. A pandemia de covid-19 continua com números de casos e de mortes alarmantes, o orçamento do Inep é insuficiente e a instabilidade administrativa persiste. “O planejamento do Enem deste ano está bastante atrasado, tanto da execução quanto da elaboração da prova”, afirmou Lopes.

Alexandre Lopes foi o quarto nome a ocupar a presidência do Inep no governo Bolsonaro. No ato de sua demissão, no final de fevereiro, a Associação dos Servidores do Inep (Assinep) argumentou em nota que “a descontinuidade de gestão, com sucessivos períodos de instabilidade, tem contribuído fortemente para comprometer a execução do importante trabalho da autarquia na Educação”.

‘Milton Ribeiro está acabando com o Inep’

O primeiro presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nomeado pelo governo Bolsonaro, Marcus Vinicius Rodrigues, afirmou também em entrevista ao Globo que o ministro da Educação Milton Ribeiro não consegue “ter uma conversa de cinco minutos sobre políticas públicas educacionais” e “está acabando com o Inep”.

Rodrigues foi dirigente do Inep no início do governo Bolsonaro, até ser demitido, em março de 2019, pelo então ministro Ricardo Vélez.

Marcus Rodrigues reforçou que o quadro técnico do Inep é “muito preparado” e que Milton Ribeiro está “colocando para trabalhar com esse pessoal um bando de pessoas que não sabem nem falar”.

As declarações de Marcus Rodrigues publicadas pelo O Globo reforçam as críticas externadas por Alexandre Lopes, também publicadas no mesmo portal de notícias.

Primeiro presidente do Inep na gestão Bolsonaro também critica Milton Ribeiro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Inep é responsável por avaliações de larga escala no país, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Os resultados também são utilizados para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Com informações de O Globo