Na Fiesp, ministro da Saúde pede boicote à mídia crítica a Bolsonaro

Queiroga foi flagrado sem máscara no Aeroporto de Guarulhos

Cada vez mais alinhado ao bolsonarismo, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sugeriu um boicote empresarial a veículos da grande mídia críticos ao governo Jair Bolsonaro. O pedido foi feito durante palestra de Queiroga a empresários da saúde, nesta segunda-feira (3), na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Segundo o ministro, trata-se de jornais e revistas que “não contribuem com o Brasil” na pandemia de Covid-19.

Um dia antes, no domingo (2), Queiroga foi flagrado sem máscara no Aeroporto de Guarulhos, ao presenciar a chegada de doses da Covax Facility ao Brasil. A foto apareceu no portal Folha.com e viralizou na internet. O ministro alegou que havia tirado a máscara de forma rápida, apenas para ajustá-la ao rosto – e afirmou que a mídia tirou a imagem do contexto.

“Aí um jornalista de um veículo de comunicação fotografou e disse lá: ‘Ministro da Saúde chega sem máscara’. Vai chegar o momento em que vamos desmascarar essas pessoas que não contribuem com o Brasil, até parte da imprensa”, declarou Queiroga, propondo, então, o boicote: “Seria bom que vocês da iniciativa privada que fazem publicidade nesse tipo de comunicação repensassem essas estratégias”.

A fala de Queiroga foi repudiada por entidades que lutam em defesa da liberdade de imprensa e da democratização da mídia, além de jornalistas. “Digamos que tenha sido como ele disse… Isso (a foto supostamente fora de contexto) autoriza um ministro da Saúde, falando em nome do Estado, a patrulhar empresa privadas para anunciar só nos veículos que cantam as glórias do governo?”, questionou o colunista Reinaldo Azevedo na Rádio BandNews FM.

Ao Vermelho, a jornalista Renata Mielli, coordenadora do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, afirmou que o ministro não tem “compreensão sobre o papel da imprensa na sociedade” – e disse que o governo, “assustadoramente”, não sabe “lidar com a crítica”, a ponto de ameaçar e perseguir jornalistas.

“É lamentável que o ministro Queiroga insinue o que a imprensa deve ou não deve divulgar de informação – e, pior ainda, que estimule empresários a reverem seus patrocínios de acordo com o que esses veículos divulgam ou escrevem”, afirma Renata. “A imprensa não existe para divulgar coisas favoráveis ou contrárias aos governos. A função dos veículos é trazer informações para a sociedade à luz dos acontecimentos.”

Para Maria José Braga, presidenta da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o governo Bolsonaro tem como estratégia “descredibilizar a imprensa” brasileira. “Infelizmente, o ministro da Saúde não destoa do governo a que ele atende”, declarou a sindicalista à Folha de S.Paulo. “O governo busca atingir a imprensa através da questão econômica, como já fez com a MP que muda a publicação de balanços em jornais.”

Autor