Fala de Teich na CPI aponta crime de Bolsonaro contra saúde, dizem deputados

Ex-ministro da Saúde afirmou que deixou a pasta por discordar do uso da cloroquina contra a Covid-19. Deputados repercutem declarações na CPI

Ex-ministro de Estado da Saúde Nelson Teich durante depoimento na CPI (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse, nesta quarta-feira (5), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que deixou o governo Bolsonaro por discordar da orientação do presidente da República sobre o uso da cloroquina no tratamento da doença. Teich é o segundo a prestar depoimento à CPI. Ele sucedeu Luiz Henrique Mandetta, mas permaneceu menos de um mês à frente da pasta.

A divergência com Bolsonaro sobre o protocolo do uso da cloroquina no combate ao coronavírus foi considerada a gota d’água para a queda de Teich, em maio de 2020. O ex-ministro afirmou ainda que não tinha autonomia para montar sua equipe e que o Ministério era tutelado por Bolsonaro.

“[Deixei o cargo] após constatação de que não teria a autonomia e liderança que imaginava indispensável para o exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento Covid-19”, afirmou o ex-ministro.

A pressão pelo uso de medicamento sem eficácia comprovada repercutiu entre os parlamentares. A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) destacou que a CPI “está confirmando o que denunciávamos: o caos foi proposital e conduzido por uma arrogância anticiência e mirando objetivos econômicos em prejuízo da saúde do povo brasileiro. E isso não ocorreu sem aviso, pelo contrário, havia um mundo todo alertando. Devem pagar por isso”, cobrou a deputada.

O líder do PCdoB, deputado Renildo Calheiros (PE), foi um dos que postou trechos da fala de Teich sobre o assunto e pontuou a falta de autonomia em sua breve gestão.

“Teich disse que deixou o Ministério da Saúde por não ter autonomia. O ex-ministro afirmou também que tinha um entendimento diferente sobre a cloroquina. Ele disse: ‘O pedido (de demissão) específico foi por causa do pedido de ampliação do uso da cloroquina. Era um problema pontual, mas isso refletia numa falta de liderança’”, destacou Renildo.

Para o vice-líder do PCdoB na Câmara deputado Orlando Silva (SP) “em poucas palavras” Teich disse o essencial: “1) não tinha autonomia para a montagem da equipe e para as ações do ministério, já que a pasta é tutelada por Bolsonaro; 2) foi pressionado por Bolsonaro a aceitar a adoção da cloroquina. Diante da recusa, saiu”.

Para o deputado Daniel Almeida (BA), “o depoimento de Teich revela, por A+B, que a pandemia chegou num patamar trágico por irresponsabilidade de Bolsonaro”.

Código Penal

Para o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), os depoimentos de Teich e Mandetta são provas cabais de que Bolsonaro cometeu crime contra a saúde pública, infringido o artigo 132 do Código Penal por “expor a vida de outrem” ao recomendar medicamentos ineficazes que provocam efeitos colaterais graves e podem matar. “Impeachment e cadeia”, defendeu.

O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) afirmou que Teich apenas reforçou o que foi dito por Luiz Henrique Mandetta: “O Ministério da Saúde era apenas uma fachada para que a política de morte de Bolsonaro continuasse. E isso comprovou-se com a ocupação militar na pasta por Pazuello. Sem autonomia não existe ministério!”, disse Padilha, ex-ministro da Saúde no Governo Dilma.

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), diz que é preciso investigar mais profundamente o entusiasmo do governo pela cloroquina, um dos motivos apresentados por Teich para deixar a pasta. “É dever da CPI investigar o que está por trás de tamanha obsessão do governo por um medicamento comprovadamente ineficaz contra covid”, disse.

Fonte: Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados

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