Calheiros admite pedir prisão de Wajngarten por mentir à CPI da Covid
No depoimento, nesta quarta-feira (12) à CPI, o ex-secretário de Comunicação da Presidência negou que tenha falado à revista na oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer
Publicado 12/05/2021 13:14 | Editado 12/05/2021 18:25
Em razão de negar o que disse na entrevista à revista Veja, o relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), admitiu pedir a prisão do ex-secretário da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República Fabio Wajngarten. No depoimento, nesta quarta-feira (12) à CPI, ele negou que tenha falado à revista na oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, em setembro do ano passado, e que havia chamado de incompetente e ineficiente a equipe do ex-ministro da Saúde Edurado Pazuello por não ter fechado o acordo.
“Nas propostas da Pfizer, no começo da conversa, ela falava em irrisórias 500 mil vacinas”, disse ele, referindo-se a entrevista à revista.
Apesar da negativa, Wajngarten revelou à CPI que o presidente recebeu, no mesmo período, uma carta com oferta de vacina, mas ignorou a proposta. Segundo ele, nem o presidente, o vice Hamilton Mourão, ministro Paulo Guedes (Economia) e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello responderam ao comunicado até novembro, ou seja, dois meses depois. Ele entregou uma cópia da carta à CPI.
“Eu queria sugerir requisitar o áudio à revista Veja, para verificarmos se o secretário mentiu ou não mentiu. Se ele não mentiu, a revista Veja terá de pedir desculpas a ele. Se ele mentiu, terá desprestigiado e mentido ao Congresso, o que é um péssimo exemplo. Vou cobrar a revista Veja, se ele não mentiu, que ela se retrate a ele. E se ele mentiu à revista Veja e a esta comissão, vou requerer a Vossa Excelência, na forma da legislação processual, a prisão do depoente. Para não dizerem que não estamos tratando as coisas com a seriedade que essa investigação requer”, afirmou o relator diante de protesto da bancada governista.
“O senhor só está aqui por causa da entrevista à Veja, se não fosse isso a gente nem lembrava que o senhor existia”, lembrou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). “Se o senhor não foi objetivo nas suas respostas, vamos dispensá-lo e quando chamarmos vossa excelência de novo não vai ser como testemunha”, completou o presidente.
Publicidade mentirosa
O relator se irritou com o comportamento evasivo do ex-secretário semelhante ao do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Quando o ex-secretário disse que houve publicidade padrão na sua gestão para combater à pandemia, o relator o acusou de mentiroso.
Em um dos vídeos da referida campanha, Calheiros lembrou que houve a participação do apresentador Otavio Mesquita, que é contra o isolamento social. Aliás, na campanha há a presença predominante de personalidades negacionistas.
Gravaram para a campanha o jogador Felipe Melo, o jornalista bolsonarista Ernesto Lacombe, o apresentador Sikêra Jr., o chef de cozinha Carlos Bertolazzi, o cantor Zezé Di Camargo, a doutora Ana Escobar, que foi a favor da volta de aulas presenciais, e o lutador Minotauro. “Não precisa sair correndo para o hospital por causa de um simples resfriado”, diz o locutor do vídeo.
Negação da vacina
Calheiros também questionou o ex-secretário sobre as falas do presidente contra a vacina quando denominou a “vacina chinesa do João Dória” e disse que não a compraria. Sobre a vacina da Pfizer, lembrou da seguinte frase: “Se você virar um jacaré é problema seu, se você virar um super-homem é problema seu, se nascer barba em alguma mulher aí, ou o homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso”.
Assim, o relator indagou: “Como perguntei às autoridades do governo que aqui estiveram: qual Vossa Senhoria avalia ter sido o impacto desse posicionamento do Presidente da República em relação à vacinação?”. “Pois não, pois não. Senador, eu acho que os atos do Presidente pertencem a ele”, respondeu.
A resposta irritou o relator: “Não, a pergunta não é essa. A pergunta é: qual o impacto das declarações? Que pertencem a ele, nós sabemos”. “Então, eu não posso especular, não posso imaginar o que passava pela cabeça dele no momento em que ele falou isso. O que eu imagino?”, disse o ex-secretário, que depois de muita insistência acabou reconhecendo impacto negativo na sociedade, mas junto com outros fatores.