Após agressão de Bolsonaro à China, produção de vacina é suspensa no país

O Butantan aguarda o envio pela China de 10 mil litros de insumos para a produção de 18 milhões de doses da CoronaVac. O motivo do atraso está sendo debitado às declarações agressivas do presidente ao país asiático

(Foto: Reprodução)

O Instituto Butantan anunciou a paralisação da produção de vacina contra o coronavírus por falta de insumo farmacêutico ativo (IFA), o principal componente para a fabricação das doses. Nesta sexta-feira (14), o governo de São Paulo entregou ao Ministério da Saúde o último lote disponível de vacinas feitas em parceria com o laboratório chinês Sinovac. O Butantan aguarda o envio pela China de 10 mil litros de insumos para a produção de 18 milhões de doses da CoronaVac. O motivo do atraso está sendo debitado às declarações agressivas de Bolsonaro ao país asiático.

Segundo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), problemas diplomáticos estão atrasando a chegada dos insumos ao Brasil. “Todos sabem que temos um entrave diplomático, fruto de declarações inadequadas, desastrosas feitas pelo governo federal contra a China, contra o governo da China e a própria vacina. Isso gerou um bloqueio por parte do governo chinês para a liberação do embarque desses insumos”, disse o governador.

Para piorar ainda mais o quadro, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou a paralisação da produção do insumo na próxima semana. A Fundação também depende do IFA da China para produzir a vacina em parceria com AstraZeneca/Oxford.

Recentemente, Bolsonaro insinuou que a China se beneficiou financeiramente da pandemia e que o vírus teria sido criado em laboratório. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano (que) ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês”, afirmou o presidente, para depois dizer que não citou nominalmente a China.

No mês passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez a seguinte afirmação: “Até os foguetes da Nasa já são privados. Estado quebrou, não consegue mandar todo ano um homem para lua. Estados Unidos têm indústria forte. Chinês inventou o vírus e a vacina dele é pior que a americana. Toma aqui a Pfizer”.

Repercussão

No parlamento, a reação ao imbróglio foi imediata. “ABSURDO! O Instituto Butantan foi obrigado a paralisar a fabricação de vacinas por falta de insumos, que a China deixou de enviar após as seguidas ofensas e agressões proferidas por Bolsonaro contra o país. GENOCIDA!!!”, protestou na rede social o vice-líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Orlando Silva (SP).

“Bolsonaro NÃO GARANTIU VACINAS e NEM INSUMOS para que o Brasil siga produzindo vacinas no Butantan. ENTENDEU? GE-NO-CI-DA!!!”, protestou o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde.

O líder da oposição no Senadoe e vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), avaliou como preocupante a interrupção da produção da AstraZeneca na próxima semana. “A produção da Coronavac pelo Butantan também foi pausada pelo mesmo motivo. A ironia é que dependeremos da Pfizer nas próximas semanas. A mesma que o Governo ignorou e que sua base ataca na CPI!”, escreveu no Twitter

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