Chilenos votam em eleição que levará a uma nova Constituição

Pela primeira vez, país terá Carta redigida por uma convenção de cidadãos e cidadãs eleitos pelo voto popular. Pleito é uma resposta à pressão das ruas por mudanças em texto da era Pinochet

Foto: REUTERS-Rodrigo Garrido

O Chile realiza neste fim de semana eleições históricas: 155 cidadãos e cidadãs serão escolhidos para redigir uma nova Constituição para substituir a atual, em vigor desde a ditadura de Augusto Pinochet.

Este tipo de votação é inédita no país: em 200 anos de independência, o Chile teve três Cartas Magnas (1833, 1925 e 1980), mas nenhuma foi redigida por uma convenção de pessoas eleitas pelo voto popular.

A assembleia constituinte também terá 17 assentos reservados aos povos indígenas e será composta por igual número de homens e mulheres. Isso é algo inédito no mundo e, em poucos meses, fará do Chile o primeiro país a ter um texto fundamental escrito com paridade de gênero.

O pleito constituinte será realizado em paralelo ao que vai eleger prefeitos, vereadores e governadores regionais. A ampla eleição ocorrerá durante dois dias para tentar evitar aglomerações devido à pandemia de covid-19.

Com 78,2% dos votos, o Chile decidiu em 25 de outubro, em um plebiscito histórico, substituir a atual Constituição. Ela era alvo de críticas por promover a privatização dos serviços básicos, e sua revogação foi uma das principais demandas durante a onda de protestos do final de 2019.

Os partidos de direita que compõem a coalizão governista “Chile Vamos” vão às eleições unidos em chapa única. A oposição de esquerda não conseguiu chegar a um acordo e registrou várias.

Há também uma forte presença de candidatos independentes, como advogados, pensionistas, sindicalistas, feministas e acadêmicos.

Mais de um ano após os protestos, nenhum partido político conseguiu capitalizar o descontentamento social, nem mesmo os jovens parlamentares que emergiram de outras grandes manifestações, as de 2011.

Comparecimento

Poucas pesquisas foram divulgadas sobre intenções de votos para eleições. A dúvida maior é se os defensores do modelo econômico atual ganharão um terço das cadeiras, o que influenciaria a construção das novas regras constituintes.

A participação popular nas urnas, que não ultrapassou 50% desde que o voto deixou de ser obrigatório, em 2012, é o grande desafio do processo constituinte. Ele foi projetado para acalmar a tensão após os tumultos de 2019, que tiveram cerca de 30 mortos e milhares de feridos.

Mais de 14,9 milhões de chilenos estão aptos a votar neste pleito, no qual pela primeira vez serão eleitos governadores regionais, cargos que até agora eram nomeados pelo presidente do país.

As eleições, que seriam realizadas em abril, mas foram adiadas por causa da pandemia, acontecem em um momento em que o Chile inicia um processo de desconfinamento após uma forte segunda onda de covid-19. Cerca de 50% da população (de cerca de 8 milhões de pessoas) já receberam a vacina contra o novo coronavírus.

Fonte: Deutsche Welle