“Guru” pró-cloroquina, Nise Yamaguchi será ouvida na terça na CPI

Médica foi convidada por Jair Bolsonaro para integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, assinalou o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) no requerimento de convocação da médica

Nise Yamaguchi entre Bolsonaro e Carlos Wizard, outro "conselheiro". Foto: Reprodução - Instagram

A audiência de terça-feira (1º) da CPI da Covid-19, no Senado Federal, vai ser com a médica Nise Yamaguchi. Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, ela defende o chamado “tratamento precoce”, defendido pelo bolsonarismo, para a Covid-19. O depoimento da médica atende a pedido de requerimento apresentado pelo senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE).

No pedido, o senador lembra que, em depoimento à CPI, o diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina.

A intenção da médica, segundo Barra Torres, seria definir o medicamento como eficaz contra o coronavírus. Barra Torres deixou claro, ainda, em depoimento prestado à CPI em 11 de maio, sua recusa ao procedimento.

A CPI completou, na última quinta-feira (27), 30 dias de funcionamento. Pelo requerimento encabeçado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que permitiu a instalação da investigação, protocolizado em fevereiro, os trabalhos têm duração de 90 dias podendo ser prorrogado por novo requerimento.

Defensora da hidroxicloroquina e da cloroquina

“Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 (vírus causador da pandemia). Ela foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta”, cita Girão em seu requerimento.

O depoimento da médica também atende a pedido do também senador governista Marcos Rogério (DEM-RO). Para ele, a audiência “será de importância singular para que [a pesquisadora] exponha sua atuação e conhecimentos, com o objetivo único de restabelecer a verdade, oferecendo informações transparentes e esclarecedoras. Tem muito a colaborar”, finaliza o senador no requerimento.

Alteração da bula da cloroquina

Barra Torres, no depoimento dele à CPI, explicou que a alteração da indicação da cloroquina seria impossível, pois o único órgão que pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.

“Agora, eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, esclareceu no depoimento.

Na última quinta-feira (27), o relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.

“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do ‘tratamento precoce’. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas”, definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar na eficácia dos imunizantes.

A CPI também vai ouvir críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.

O depoimento de Nise Yamaguchi à CPI está marcado para começar às 9 horas de terça-feira (1ª).

Na quarta-feira (2), quatro especialistas foram convidados a comparecer à CPI para falar sobre as medidas e protocolos médicos usados no combate à pandemia. São os médicos Clovis Arns da Cunha, Zeliete Zambom, Francisco Cardoso Alves e Paulo Porto de Melo.

Quem são

Arns é o atual presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor de Infectologia na UFPR (Universidade Federal do Paraná). De acordo com o currículo lattes dele, essa é a mesma universidade em que ele se graduou e se tornou mestre em Medicina Interna. Ele é especializado em doenças infecciosas pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Arns também é chefe do serviço de Infectologia do Hospital Nossa Senhora das Graças e diretor médico do Centro Médico São Francisco.

Em julho do ano passado, Arns e outros nove infectologistas assinaram uma carta em que recomendam que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da Covid-19, e que municípios, Estados e o Ministério da Saúde deveriam reavaliar as orientações de tratamento da doença.

Zeliete Zambom

Zambom é presidente da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade), professora e coordenadora do internato em medicina da família da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP). Ela é mestra em Ciências da Saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com dissertação sobre a necessidade da medicina da família no SUS (Sistema Único de Saúde). Ela foi convidada por meio de requerimento do senador Humberto Costa (PT-PE).

Francisco Eduardo Cardoso Alves

Eduardo Cardoso Alves é especialista em Infectologia pelo Instituto Emílio Ribas e diretor-presidente da ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social). Ele é um dos coautores da nota informativa do Ministério da Saúde que dava orientações para o tratamento precoce da Covid-19, publicada em agosto de 2020, com medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina, que foi retirada do ar recentemente. Foi convidado por meio de requerimento do senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Paulo Márcio Porto de Melo

Ele é mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficial, graduado em medicina e especialista em neurocirurgia pela Unifesp, além de presidente do departamento de Neurocirurgia Vascular e do Departamento de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Em entrevista à rádio Jovem Pan em janeiro deste ano, disse ser contra a obrigatoriedade da vacina contra Covid-19 e alegou que os efeitos colaterais da Coronavac poderiam ser piores que contrair a doença causada pelo novo coronavírus. O médico publicou na conta dele do Instagram mensagem de apoio à secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, que depôs na CPI na última terça-feira (25).

Fonte: Hora do Povo