Morre o líder comunitário Wanderley Gomes, do PCdoB e da Conam

Militante foi vítima da Covid-19

Morreu na noite desta sexta-feira (4), aos 59 anos, o líder comunitário Wanderley Gomes da Silva, dirigente do PCdoB-AP, da Conam (Confederação Nacional das Associações de Moradores) e da Unegro (União dos Negros pela Igualdada Racial). Ele estava internado desde maio no Hospital Universitário da Universidade Federal do Amapá (HU-Unifap) devido a complicações da Covid-19.

Wanderley chegou a ser intubado e a passar por sessões de hemodiálise, mas não resistiu. Sua morte ocorreu no dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 470 mil vítimas da pandemia do novo coronavírus.

“A Conam está de luto. Perdemos nesta noite o nosso amigo, militante e parceiro de muitas lutas: Wanderley Gomes da Silva”, registrou a diretoria da Conam, em nota. “Além da sua militância, Wanderley era um grande formulador e sua opinião sempre contribuía aos debates do movimento comunitário e da saúde. Seu legado e exemplo viverão na nossa luta por comunidades mais justas e democráticas, pelos direitos do novo povo!”

Mineiro de Conselheiro Lafaiete, nascido em 1961, Wanderley era apelidado pelos amigos e companheiros de “Caranguejo”. De origem sindical, passou para o movimento comunitário na região metropolitana de São Paulo ainda nos anos 1980. Na década seguinte, foi eleito para o primeiro de seus mandatos na Facesp (Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo). Desde as primeiras lutas, destacou-se sobretudo como ativista do SUS (Sistema Único de Saúde).

“É preciso que a sociedade brasileira lute pelo SUS constitucional – aquele que garante a saúde como um direito. Um SUS universal, com qualidade e equidade, como obrigação do Estado e direito do cidadão”, afirmava. “Não permitamos a volta do tempo anterior ao SUS, em que os mais pobres eram tratados como indigentes e a atenção à saúde estava garantida somente para aqueles que faziam parte do mercado formal de trabalho.”

Uma vez na Conam, Wanderley representou o movimento comunitário e a própria entidade em uma série de instâncias colegiadas. Ele esteve, entre outras tarefas, no Conselho Nacional de Saúde, no Conselho Nacional das Cidades, na Comissão Nacional Intersetorial de Vigilância em Saúde e, mais recentemente, no Conselho Estadual de Saúde do Amapá. Em nota de pesar, o conselho amapaense lamentou a perda de “um dos mais valorosos combatentes em defesa das políticas públicas”, que “dedicou sua vida às causas nobres e à luta por justiça social”.

Filiado ao PCdoB desde os anos 1980, Wanderley foi militante de base, dirigente municipal em Mauá e membro da direção estadual do PCdoB-SP. Desde 2011, era da comissão executiva (secretariado) do PCdoB-AP. Militante antirracista, integrou ainda a Unegro. “Wanderley era um dos imprescindíveis a que se referia Brecht, era um legítimo herdeiro da luta de Zumbi, abençoado pelo Orixás e por Tupã, pelas águas, pelas florestas”, registrou a Unegro, também em nota.

O editor do Vermelho, Inácio Carvalho, também lamentou a morte de Wanderley em mensagem enviada à família. Carvalho externou sua solidariedade “pela partida desse baita cara, lutador do povo” e afirmou que teve muito contato com o líder comunitário quando ele decidiu enviar artigos para o portal. Conforme o jornalista, os textos “aliavam a luta popular e a defesa de ideias avançadas, sempre focado na necessidade um programa de desenvolvimento para o Brasil que atendesse as necessidades do povo”.

Homenagem da UJS-AP a Wanderley

Na opinião de Wanderley, era preciso garantir a politização das lutas populares. “O movimento comunitário evoluiu sua visão estratégica de luta na medida que deixou de ser um movimento reivindicativo e elevou seu patamar a movimento político. Com uma visão avançada das lutas sociais no Brasil, compreende que suas lutas específicas devem estar ligadas às lutas políticas que apontam saídas progressistas para os dilemas do País e o projeto de nação”, escreveu ele em artigo para o Vermelho, onde publicou vários artigos.

Segundo Wanderley, “o movimento comunitário politizado e de luta nos aproxima do povo e abre janelas para abordagens dos mais amplos problemas sociais. Reforçar o diálogo com o movimento comunitário é relevante ao projeto de desenvolvimento social como alternativa para o para o Brasil”.

Wanderley Gomes da Silva deixa a esposa, Aldinea Machado, e três filhos.

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