Deputados criticam declarações de Queiroga em novo depoimento à CPI

Ministro da Saúde afirma que aconselha presidente sobre medidas sanitárias, mas não “julga” suas ações. Bolsonaro anuncia nova aglomeração em passeio em São Paulo no próximo sábado (12).

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Com uma postura defensiva, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, compareceu novamente, nesta terça-feira (8), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid para prestar depoimento aos senadores. Entre suas declarações, Queiroga afirmou, por exemplo, que não lhe compete “julgar os atos do presidente da República”. A afirmação foi feita em resposta à manutenção da postura negacionista de Bolsonaro em relação às medidas sanitárias para conter o avanço da pandemia no país. Bolsonaro continua ignorando o uso de máscaras e promovendo aglomerações, como o novo passeio de moto prometido pelo presidente para o próximo sábado (12), em São Paulo.

“Não me compete julgar. As imagens falam por si só. Já conversei com o presidente sobre esse assunto”, disse Queiroga.

Deputados questionaram até que ponto é garantida a autonomia do ministro da Saúde no governo de Jair Bolsonaro, que interfere no quadro do ministério, decide pela realização de evento esportivo internacional e descumpre medidas sanitárias a revelia das orientações técnicas.

“O ministro Queiroga assume que orienta Bolsonaro a andar de máscara e cumprir as medidas de isolamento, mas o presidente não cumpre. Ou seja, Bolsonaro se julga inimputável. Todos os governos deveriam se espalhar em Flávio Dino e multa-lo”, destacou o vice-líder do PCdoB, deputado Orlando Silva (SP), referindo-se à uma multa dada pelo governo do Maranhão a Bolsonaro, após participar de ato no estado sem uso de máscara.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) contesta a autonomia do ministro da Saúde no governo Bolsonaro, que demitiu dois médicos do cargo que não adotaram medidas que o presidente defendia.

Para Gleisi Hoffmann (PT-RS), presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, Queiroga titubeou ao responder perguntas objetivas e sua autonomia inexiste, “como ficou claro no depoimento da Dra Luana”, afirmou referindo-se à não nomeação da infectologista Luana Araújo por questões políticas.

Copa América

Os deputados criticaram ainda a postura do ministro em relação à realização da Copa América no país. Para dizer que a competição terá um lugar seguro no país, o ministro disse que o Campeonato Brasileiro aconteceu em ambiente controlado com apenas um caso positivo de Covid-19. “O paciente ficou hospitalizado, e não houve consequências”, disse. No entanto, no período, foram mais de 300 casos da doença.

Com relação ao paciente, Queiroga também mentiu, pois se trata do preparador físico do Coritiba Hugo Paulista, que ficou 18 dias internado e uma semana intubado. No mesmo período, o massagista do Flamengo Jorginho morreu em decorrência da doença.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) afirmou nas redes sociais que Marcelo Queiroga relativiza a realização da Copa América no Brasil e “se esquece de contextualizar q temos mais de 473 mil mortes, vacinação lenta e diversas aglomerações”.

“Debochado! Irresponsável! Sobre a realização da Copa América em meio à uma pandemia que mata mil brasileiros por dia, o ministro da Saúde Queiroga diz ‘a prática de esportes e jogos é liberada no Brasil’”, destaca a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) também criticou a postura do ministro. “Queiroga diz que Copa América não causará impactos no Brasil porque os atletas têm seguro e utilizarão rede privada. Além disso, chamou o SUS de Sistema Público de Saúde. Um ministro da Saúde que menospreza e desconhece o valor do SUS, não tinha nem que estar nesse posto”, pontuou o deputado.

Talíria Peltrone (PSOL-RJ), deputada e líder do partido na Câmara, também destacou a omissão do ministro na decisão de sediar a competição internacional. Para a parlamentar, “ou é total desconhecimento do cargo que ocupa ou desonestidade negacionista mesmo” para realizar a Copa América neste momento.” Fico com a segunda opção!”, completou a deputada na postagem.

Não há infectologistas no Ministério da Saúde

Outro ponto do depoimento do ministro que foi criticado foi a composição dos profissionais que atuam no Ministério da Saúde. O ministro afirmou que a Pasta não conta com médicos infectologistas no quadro de funcionários, em meio à pandemia do coronavírus que já vitimou mais de 470 mil brasileiros.

“Essa informação é chocante. Como podemos tratar uma pandemia de maneira eficaz com tamanho despreparo? Está ainda mais nítida a irresponsabilidade do desgoverno com o país!”, enfatizou o deputado Daniel Almeida.

Para Jandira Feghali, a declaração é a “confissão do gestor máximo da Saúde de que o Brasil enfrenta a pandemia sem especialistas”.

Marcelo Freixo (PSOL-RJ), Líder da Minoria, vê no depoimento do ministro Queiroga uma “confissão dos crimes do governo”.

A declaração foi dada quando Queiroga foi instado a responder sobre a militarização em sua Pasta. Para o deputado Orlando Silva, “o Ministério da Saúde não tem infectologistas porque está constrangido a manter os militares que foram alocados na gestão Pazuello”.

Com informações de PCdoB na Câmara