Ex-braço direito de Pazuello mente sobre compra da vacina do Butantan

O ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco disse que as negociações para a compra da vacina CoronaVac não foram paralisadas, apesar da ordem de Bolsonaro para cancelar o acordo com o Butantan

Ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco depõe na CPI (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco mentiu nesta quarta-feira (9) aos senadores da CPI da Covid ao dizer que não foram paralisadas as trativas para a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac em outubro do ano passado. Na época, por birra com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Bolsonaro mandou o então ministro Eduardo Pazuello romper o acordo com o Butatan e as negociações foram paralisadas por quatro meses.

“Já mandei cancelar o protocolo de compras da CoronaVac, o presidente sou eu”, disse Bolsonaro na ocasião. “Um manda e outro obedece”, respondeu Pazuello. Apesar dos fatos, o ex-braço direito de Pazuello disse na comissão: “Não entendi o que o presidente disse como uma ordem”.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) apresentou documento do Instituto Butantan que acusou o rompimento das tratativas da aquisição da vacina em outubro de 2020 e que ela só foi retomada em janeiro de 2021. Em depoimento na CPI, o presidente do Butantan, Dimas Covas, confirmou que após a ordem de Bolsonaro as negociações ficaram paralisadas até janeiro deste ano.

“Seriam quatro meses; não são 24 horas que estão sendo colocadas aqui. Entre o anúncio e a suspensão se deram quatro meses. E no próprio documento ele diz que as tratativas estavam sendo feitas antes, em várias outras reuniões e discussões. Ele cita o termo: após diversas reuniões e discussões”, afirmou a senadora.

Dimas Covas lembrou que a primeira proposta ao governo brasileiro era de 60 milhões de doses com entrega prevista em dezembro do ano passado e mais 100 milhões de doses até maio deste ano. “Tínhamos 5,5 milhões de doses da CoronaVac prontas e 4 milhões em processamento em dezembro. O Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinação contra a Covid-19 não fossem os percalços enfrentados”, disse ele, que entregou à CPI todos os documentos sobre as tratativas com o governo.

Contradição

Elcio Franco entrou em mais contradições. Ele disse que a compra da CoranaVac não foi efetivada por falta de conclusão da Fase 3 dos estudos clínicos, por ser um cemitério de vacina e a falta de aprovação pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), expôs a contradição do secretário ao dizer que o governo comprou a vacina produzida pela AstraZeneca/Fiocruz, mas recusou Pfizer e CoronaVac.

“Vamos aqui fazer uma coisa para explicar pra quem está nos ouvindo. Vossa Excelência comprou um apartamento na planta. O senhor foi lá, olhou a planta, olhou. E qual a prestação? É tanto. Tem que ter que dar de entrada quanto? Toma. Por que que não fez a mesma coisa com o Butantan, em que tecnicamente os especialistas, os cientistas são tão bons quanto os da Fiocruz? É isso, coronel, que nós não entendemos, por que que a gente não comprou 60 milhões de vacinas do Butantan e 70 milhões da Pfizer”, disse Omar.

O relator Renan Calheiros (MDB-AL) questionou o ex-secretário sobre a medida provisória para destinar quase R$2 bilhões ao desenvolvimento da vacina objeto da parceria entre Fiocruz e AstraZeneca. “Por que nenhum apoio financeiro foi prestado à CoronaVac?”, indagou. “Como eu já havia externado, senhor relator, a encomenda tecnológica é regida por uma legislação específica”, respondeu, sem convencer.

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