Pazuello ignorou pedido de socorro 5 dias antes da crise do oxigênio no AM
Os pedidos de socorro foram feitos por meio de ofícios assinados pelo governador do Amazonas, Wilson Lima. Até então desconhecidos do público, os documentos aparecem no inquérito que a Polícia Federal (PF) instaurou a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF)
Publicado 09/06/2021 09:49 | Editado 09/06/2021 10:01
Cinco dias antes do colapso da falta de oxigênio no Amazonas, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), pediu socorro ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e ao comandante da Amazônia (CMA), general Theophilo Oliveira. Mas os pedidos de ajuda foram ignorados.
Os pedidos de socorro foram documentados em ofícios assinados por Wilson Lima. Os documentos, até então desconhecidos do público, aparecem no inquérito que a Polícia Federal instaurou a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a tragédia que matou asfixiadas dezenas de pacientes com covid-19, principalmente em Manaus.
O drama da falta de oxigênio hospitalar no Amazonas começou no dia 14 de janeiro e perdurou por pelo menos três semanas. Todas essas informações aparecem em reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira (9) com o título “Pazuello e Exército ignoraram pedidos do AM por oxigênio a cinco dias do colapso“.
No fim da noite de ontem, o jornal disponibilizou o conteúdo em seu site com a seguinte manchete: “Pazuello e Exército ignoraram pedidos em ofícios do governador do AM cinco dias antes de colapso de oxigênio“.
“Um ofício reproduzido no inquérito, assinado pelo governador do Amazonas, foi enviado a Pazuello em 9 de janeiro. O documento aponta a necessidade de oxigênio diante da alta da infecção pelo coronavírus e do aumento dos casos de internação, com “súbito aumento no consumo” do insumo”, diz um trecho da matéria.
A reportagem diz também que os alertas de Wilson destacam a “iminência de esgotamento” de oxigênio e para a “necessidade de resguardar a vida de pacientes”.
“O ofício diz, então, que a White Martins, empresa responsável pelo fornecimento de oxigênio em Manaus, teria disponíveis 500 cilindros em Guarulhos (SP), prontos para transporte aéreo urgente às 16h do dia seguinte, 10 de janeiro”, acrescenta a reportagem.
A matéria da Folha diz ainda que, no ofício que o governador Wilson Lima enviou ao comandante do CMA, ele avisou do “súbito aumento” no consumo e que havia “iminência de esgotamento”.
Na reportagem há também destacada uma cronologia dos fatos, mostrando as reiteradas vezes em que o Amazonas pediu socorro ao governo Bolsonaro.
Cronologia:
7.jan
- White Martins manda email à Secretaria de Saúde do Amazonas registrando alerta sobre risco de escassez de oxigênio;
- Secretaria pede ajuda ao Comando Militar da Amazônia para o transporte aéreo urgente de cilindros de oxigênio que estavam em Belém;
8.jan
- O email à Secretaria de Saúde teria sido encaminhado ao então ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, segundo a AGU. Depois, o gabinete do ministro negou essa versão;
- Um novo ofício do governo do Amazonas ao Comando Militar da Amazônia oferece novas informações para o transporte de oxigênio de Belém a Manaus;
9.jan
- Ofício do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), alerta para o risco de escassez de oxigênio e detalha pedido de ajuda a Pazuello, com solicitação de transporte de 500 cilindros da White Martins em Guarulhos (SP);
- O governador também manda ofício ao comandante militar da Amazônia, com o mesmo teor, pedindo ajuda para transporte de 36 tanques de oxigênio líquido;
11.jan
- White Martins manda email pedindo “apoio logístico imediato” para transportar 350 cilindros de oxigênio gasoso, 28 tanques de oxigênio líquido, 7 isotanques e 11 carretas. O pedido foi direcionado a dois coronéis do Exército com atuação no Ministério da Saúde;
12.jan
- Em novo ofício a Pazuello, governo do Amazonas pede ajuda para transporte de microusinas e geradores e;
14.jan
- O sistema de saúde em Manaus entra em colapso, já nas primeiras horas do dia, por falta de oxigênio. O insumo transportado com auxílio do governo foi insuficiente. Pacientes morrem asfixiados nos hospitais.
Mentira
Todo esse material reforça o entendimento da CPI da Covid de que Pazuello mentiu quando prestou depoimento ao colegiado.
Isso porque, à CPI, o ex-ministro da Saúde disse que nunca foi avisado da falta de oxigênio no Amazonas e só tomou conhecimento da situação no dia dia 10 e sobre pedido de ajuda para transportar o insumo de outros estados.
Fonte: BNC Amazonas