Henriqueta: Uma Galeno em destaque, por Luciana Bessa

Ativista dos movimentos culturais e literários da capital, formou-se em 1918 em Direito, período em que pouquíssimas mulheres frequentavam a escola.

Por Luciana Bessa*

Quando pensamos nas letras cearenses, surge-nos nomes como: Artur Eduardo Benevides, Antônio Sales, Adolfo Caminha, José de Alencar, entre outros. A grande questão é: onde estão as mulheres neste processo? Durante o século XIX, poucas tinham acesso à educação e ao espaço público, pois sendo consideradas um ser inferior estavam em casa servindo aos pais e, depois do casamento, ao marido.

É bom saber que há exceções. São as exceções que tornam as narrativas mais instigantes. Filha do poeta cearense Juvenal Galeno – “Prelúdios Poéticos” (1856) – Henriqueta Galeno nasceu no dia 23 de fevereiro de 1887, em Fortaleza.

Ativista dos movimentos culturais e literários da capital, formou-se em 1918 em Direito, período em que pouquíssimas mulheres frequentavam a escola. Henriqueta defendia que elas deveriam, se assim quisesse, frequentar os diferentes espaços públicos e participar das atividades vigentes.

Advogada, educadora e escritora (poetisa, ensaísta), Henriqueta fundou e dirigiu, em 27 de setembro de 1919, o “Salão Juvenal Galeno”, que em 1936, transformou-se na “Casa de Juvenal Galeno”, R. Gen. Sampaio, 1128 – Centro, Fortaleza, hoje, não mais residência dos Galenos – Instituição cultural mantida pela Secretária Cultural do Ceará, que congrega mais de vinte instituições literárias e mantém intercâmbio com outras agremiações com a missão de propagar a cultura cearense.

Membro da “Associação Cearense de Imprensa” e imortal da Academia Cearense de Letras (cadeira nº 23, cujo patrono era o pai), Henriqueta publicou estudos sobre “Júlia Lopes de Almeida”, “Maria Quitéria – A Primeira Mulher-Soldado do Brasil” e “Mulheres Admiráveis”, obra póstuma.

Incomodada   com o fato do “Salão Juvenal Galeno” ser dominado pelo sexo masculino, em 1936, Henriqueta funda a “Falange Feminina”, hoje Ala Feminina, com o propósito de “desafiar a oposição e a rudeza da época”. Há 83 anos, a Ala Feminina recebe mulheres, divulga seus trabalhos em revistas, as coloca em contato com outras entidades culturais, promove concursos literários e lançamentos de antologias poéticas. Trata-se de uma agremiação que contribui para tirar as mulheres do silêncio e do ostracismo imposto pelo século anterior.

Henriqueta trilhou caminhos diferentes daqueles seguidos pelas mulheres de seu tempo. Frequentou espaços públicos e defendeu ideias de igualdade de gêneros em uma Fortaleza do século XIX e início do século XX. Somos gratas, Henriqueta, por criar uma narrativa nas letras cearenses, em que a mulher ganha voz e passa a ter papel de destaque.

*Doutora em Letras pela UFC, coordenadora da Roda de Poesia no Gesso do Coletivo Camaradas e idealizadora do Blog Literário: Nordestinados a Ler