CPI da Covid mira sigilo de Pazuello e elo entre empresas e Bolsonaro

Foco da comissão – que mirou inicialmente os erros e omissões do governo federal no combate à pandemia – foi ampliado

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado aposta em novas linhas de investigação, oitivas e quebras de sigilo para dar novo gás às apurações em curso. Uma das novas frentes será averiguar o elo do presidente Jair Bolsonaro e de sua família com empresas e organizações sociais do Rio. Além disso, a expectativa é que os resultados da quebra de sigilo do ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde) possam mostrar contatos com empresas que estão na mira da CPI.

O depoimento recente que revelou mais informações inéditas foi o de Wilson Witzel, governador cassado do Rio de Janeiro. O ex-juiz participou de oitiva na quarta-feira (16). Na avaliação de senadores, Witzel relatou suspeitas de que a gestão de OSs (organizações sociais) do estado que operam hospitais e UPAs (unidades de pronto-atendimento) têm ligação com milícias.

Ele acusou uma “máfia da saúde” no Rio de Janeiro – que também incluiria hospitais federais – de terem financiado sua queda. “O meu impeachment foi financiado por estas OSs e alguém recebeu este dinheiro”, afirmou Witzel. Seu depoimento gerou pedidos de quebra de sigilo de seis OSs, além de pedido de convocação do governador do Rio, Cláudio Castro, e de seu secretário estadual de Saúde, Alexandre Chieppe.

Os senadores querem saber quem está por trás da gestão das OSs e hospitais federais – e se Bolsonaro e seus filhos têm relação com as instituições. Segundo o Blog do Octavio Guedes (G1),  Witzel não esperou a reunião secreta na CPI para revelar o nome de quem ele aponta como dono desses hospitais federais. Logo após o depoimento nesta quarta-feira (16), numa conversa com integrantes da CPI, ele nominou: “O dono é o Flávio Bolsonaro”, filho do presidente e senador pelo Patriotas-RJ.

À CPI, em público, Witzel disse que os hospitais “tem um dono – e esta CPI pode descobrir quem é o dono”. Depois, em privado, afirmou que o dono é Flávio. O ex-governador insinuou que filho do presidente manda e desmanda, inclusive indicando fornecedores.

Horas depois de revelar o nome, a defesa de Witzel pediu à CPI que providenciasse segurança para ele. A ex-primeira-dama Helena Witzel ficou preocupadíssima com o tom adotado pelo marido no depoimento. O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a comissão solicitará escolta para o ex-governador.

O foco da CPI – que mirou inicialmente os erros e omissões do governo federal no combate à pandemia – foi ampliado. Antes, as linhas de investigação tratavam principalmente do gabinete paralelo que decide ações de enfrentamento da pandemia à revelia do Ministério da Saúde e o atraso na compra de vacinas.

Agora, a CPI incluiu nas apurações a relação de Bolsonaro e família com farmacêuticas e OSs do Rio de Janeiro. O objetivo é verificar se houve corrupção por meio de favorecimentos a pessoas jurídicas e eventuais pagamentos de propina. Senadores querem entender a razão de o Itamaraty e o próprio Bolsonaro terem se empenhado para garantir o fornecimento de drogas como a hidroxicloroquina para farmacêuticas, como EMS, Apsen e Vitamedic – os donos das duas últimas já tiveram sigilos quebrados.

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), também deve apresentar uma lista com ao menos 11 pessoas que vão passar da condição de testemunha para a de investigado perante a comissão. Ele tem dito a outros senadores do grupo majoritário que vai incluir na lista o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Outros nomes já informados pelo relator a outros parlamentares são os ex-ministros Pazuello e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), o ex-secretário-executivo da Saúde Élcio Franco e o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten.

O senador Humberto Costa (PT-PE) também avalia que o depoimento de Witzel contribuiu para investigação de supostos casos de corrupção. “A avaliação é que a CPI está indo bem. Tem que ter clareza que não vamos produzir fatos políticos todos os dias como se fosse uma novela com fortes emoções”, disse.

Com informações da Folha de S.Paulo e G1