Inflação registra energia elétrica mais cara e desigualdade no consumo

Dados do IBGE mostram a inflação de maio como a maior do mês em 25 anos, resultado para o qual muito colaborou a tarifa de energia elétrica, inserida no grupo Habitação

Impacto da inflação reflete enorme desigualdade quando itens como alimentação e habitação são os que mais corroem a renda dos menores salários.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês de maio alcançou a marca de 0,83%. O número é o maior para um mês de maio desde 1996, quando atingiu 1.22%. Parte expressiva da taxa representa a alta do grupo Habitação (1,78%), com destaque especial para o preço da energia elétrica.

A pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, Aniela Fagundes Carrara, explica que o IPCA é o índice oficial da inflação do governo, calculado pelo IBGE, em uma pesquisa que abrange famílias de um a 40 salários mínimos.

“É um indicador bastante amplo e que engloba diferentes perfis, porque a cesta de consumo de uma família que recebe um salário mínimo é bem diferente daquela que recebe 40”, revela a pesquisadora, salientando que o índice abrange apenas regiões metropolitanas. 

A taxa de 0,83% de maio deste ano surpreendeu economistas e especialistas da área. Com a taxa do mês passado, o acumulado de inflação do ano chegou a 3,22%. “Dentro do regime de metas sempre é definida uma meta para a inflação, no nosso caso a deste ano é 3,75%, com limite superior de 5,25% e inferior de 2,25%”, explica Aniela.

A perspectiva que os dados propõe é que a meta central de inflação seja ultrapassada inclusive no teto. “Já estão sendo pensadas frentes de políticas econômicas, como o aumento da taxa Selic, no sentido de reduzir os níveis dos preços, pelo menos daqueles que são livres”, complementa. A energia elétrica está entre os preços definidos por contrato.

O índice da inflação é dividido em nove grupos: Alimentação e Bebidas, Habitação, Artigos de Residência, Vestuários, Transportes, Saúde e Cuidados Pessoais, Despesas Pessoais, Educação e Comunicação. Em 2021, o perfil inflacionário se diferencia de 2020, quando as taxas crescentes se registravam no grupo Alimentação, que são preços livres, enquanto, agora, a inflação generalizou-se por todos os grupos.

Ainda dentro da inflação, de acordo com a economista, há uma distinção entre os preços que atendem à oferta e demanda do mercado e os que são administrados por meio de contratos, que merecem destaque e supervisão para as próximas taxas. “O protagonista do mês de maio, por exemplo, foi a energia elétrica, que tem um preço administrado”, ressalta. 

Diferentemente do ano de 2020, em que o grupo Alimentação pesou mais para o consumidor amplo, neste ano, o grupo que obteve maior alta foi Habitação, com 1,78%, no qual está inserida a energia elétrica. Com a bandeira tarifária vermelha patamar 1 em ação a partir de maio deste ano ‒ que adiciona R$ 4,169 à conta de luz a cada 100 kWh consumidos, o protagonismo da energia elétrica na taxa inflacionária de maio representou 0,23 pontos porcentuais. Além da energia elétrica, outros elementos do grupo também subiram, como a água e esgoto e o botijão de gás. 

Para o consumidor de renda mais baixa, a taxa da inflação desperta ainda mais preocupação. “Eles estão sentindo bem mais a inflação porque grande parte do que ganham vai para a Habitação, de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar”, explica a professora.

Aniela ainda reforça que a taxa afeta o consumidor amplo e que as famílias com maiores rendas também são afetadas pela inflação, mas em proporções menores. “Além de corroer o poder de compra, também podemos perceber efeitos indiretos de desigualdade”, finaliza.

Edição de entrevista à Rádio USP

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