Salles pede demissão; País se livra do pior ministro do Meio Ambiente

Ele era acusado pela Polícia Federal de ter atrapalhado investigações sobre apreensão de madeira

Alvo de duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Salles, o pior ministro do Meio Ambiente na história do Brasil, pediu demissão. Ele comunicou a decisão na tarde desta quarta-feira (23) ao presidente Jair Bolsonaro.

O ato de exoneração já foi publicado no Diário Oficial da União. No mesmo decreto, Bolsonaro nomeou o ruralista Joaquim Alvaro Pereira Leite para o lugar de Salles. O novo ministro já era gestor na pasta e foi conselheiro por 23 anos da Sociedade Rural Brasileira (SRB).

Salles estava sob pressão e alegou motivos familiares para deixar o cargo, apesar do respaldo do Palácio do Planalto. A pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), os inquéritos contra ele foram autorizados pelo STF.

O agora ex-ministro é acusado de ter atrapalhado investigações sobre apreensão de madeira. Em 19 de maio, ele foi alvo de operação da Polícia Federal, que investigava esquema envolvendo a exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e a Europa.

Devastação

Desde 2019, foram recordes nas taxas de desmatamento e de queimadas, com fortes críticas de ambientalistas, de especialistas e de países que defendem o combate à emergência climática. 

A Amazônia perdeu 810 quilômetros quadrados de floresta em março, área um pouco maior que a cidade de Goiânia. O desmatamento aumentou 216% em relação a março de 2020.

Em 2020, os incêndios que atingiram o Pantanal consumiram, pelo menos, uma área de vegetação dez vezes maior do que em 18 anos de devastação. O bioma registrou o maior número de focos de incêndio de sua história – foram 22.116 pontos detectados no ano passado, contra 10.025 registrados em 2019.

O Ibama, pelo menos desde 2004, nunca expediu tão poucas autuações de crimes contra a flora como em 2020, conforme levantamento do G1. As autuações do instituto na Amazônia Legal caíram 62% de janeiro a setembro de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.

Entre agosto de 2018 e julho de 2019, período de monitoramento do sistema Prodes do Inpe, que mede a perda de floresta na Amazônia Legal, as terras indígenas apresentaram uma taxa de desmatamento 74% maior do que o mesmo período nos 12 meses anteriores.

A mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal entre 2015 e 2020, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, reunidos pelo G1. A área derrubada equivale a cerca de 40,5 mil campos de futebol. Ao longo de 2019 e 2020, esse desmatamento causado pela atividade mineradora também registrou recordes e avançou sobre áreas de conservação.

Repercussão

O anúncio da demissão no ministério teve repercussão imediata, principalmente pela gestão de Ricardo Salles ter sido marcada pelo desmonte dos órgãos de fiscalização e gestão ambiental como o Ibama e ICMBio, repetidos recordes de queimadas e desmatamento das florestas, além da grilagem de terras na região amazônica, o que é incentivado pelo governo Bolsonaro.

Segundo o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), as “árvores agradecem” a queda do ministro. “Ele já devia ter saído do governo Bolsonaro há muito tempo. Ao que tudo indica, estava deixando ‘passar a boiada’, destruindo as florestas brasileiras”, disse.

“O Meio Ambiente agradece a saída de Salles! Agora é exigir que as investigações sobre crimes cometidos sejam concluídas!”, destacou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Em suas redes sociais, a parlamentar lamentou, porém, que a mesma política ambiental deve ser mantida pelo substituto escolhido pelo presidente da República.

A exoneração foi anunciada juntamente com a nomeação de Joaquim Alvaro Pereira Leite como novo ministro do Meio Ambiente, atual secretário da Amazônia e Serviços Ambientais. “Trocaremos seis por meia dúzia. O governo Bolsonaro não cede um milímetro em seu projeto de destruição do Brasil”, denunciou.

De acordo com seu próprio currículo em uma plataforma digital, Leite foi conselheiro durante 23 anos da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das principais entidades ruralistas do país.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), a política de predação do meio ambiente perde um símbolo com a saída de Salles, “mas o patrocinador dessa agenda lesa-pátria é Bolsonaro”.

Na mesma linha, o deputado Daniel Almeida reforçou a importância das investigações sobre os crimes ambientais do governo continuem. “Salles pediu pra sair. O meio ambiente, as florestas, os indígenas, a vida e o povo brasileiro agradecem. Entretanto, precisamos que os crimes cometidos à frente do Ministério do Meio Ambiente sejam devidamente apurados”, escreveu no Twitter.

“Exoneraram Salles? Ótimo e já vai tarde, pois os danos à imagem do Brasil e ao meio ambiente são incalculáveis”, registrou a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP).

Com informações da Liderança do PCdoB na Câmara e do G1