Bolsonaro citou Ricardo Barros ao ouvir denúncias na compra da Covaxin

Em 3 de fevereiro, o líder do governo na Câmara apresentou emenda que permitiu a importação da Covaxin. Barros e o dirigente da Precisa Medicamentos, dirigida por Francisco Maximiano, são próximos e se envolveram juntos em casos suspeitos

O líder do governo na Câmara, (Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) cedeu às pressões dos parlamentares da CPI da Covid e revelou nesta sexta-feira (25) que Bolsonaro citou o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), por possível envolvimento nas supostas irregularidades no Ministério da Saúde na compra da vacina indiana Covaxin.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi a responsável pela revelação do parlamentar. “É muito importante que diga o nome, até porque não se preocupe, Vossa Excelência diz que não tem como provar, mas nós temos. Nós já temos indícios, nós já temos documentos e nós temos como rastrear. Se Vossa Excelência tiver a coragem de dizer o nome, eu posso garantir, não se preocupe com o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que nenhum deputado vai ter coragem de se insurgir contra Vossa Excelência, contra a opinião pública, contra a massa de brasileiros que quer saber a verdade e buscar a verdade dos fatos. Pode falar o nome do deputado, porque nós já sabemos”, disse.

O deputado respondeu: “Eu vou ser perseguido. Já disseram que eu já perdi a minha relatoria da reforma tributária, que foi uma promessa do presidente Arthur Lira para mim; já perdi todos os espaços; já perdi tudo que eu tenho; já acabaram com a minha política. O que mais vocês querem que eu faça?”, respondeu. “Bom, deputado,  só confirma que sabe e não quer dizer”, insistiu a senadora. “Eu sei o que vai acontecer comigo(…) A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou”, disse o deputado.

“O Presidente entendeu a gravidade. Olhando os meus olhos, ele falou: ‘Isso é grave!’ Não me recordo do nome do parlamentar, mas ele até citou um nome pra mim, dizendo: ‘Isso é coisa de fulano’. Não me recordo. E falou: ‘Vou acionar o DG (delegado-geral) da Polícia Federal, porque, de fato, Luis, isso é muito grave, isso que está ocorrendo”, disse o deputado sobre o encontro com o presidente. Questionado sobre quem seria o deputado, o parlamentar afirmou não se lembrar do nome.

A CPI investiga indícios de corrupção na compra do insumo. As 20 milhões de doses foram compradas pelo preço de R$ 1,6 bilhão, o valor mais caro por dose. Apesar de o governo alegar que não pagou, o valor se encontra empenhado no Ministério da Saúde.

Em 3 de fevereiro, o líder do governo na Câmara apresentou emenda que permitiu a importação da Covaxin. Barros e o dirigente da Precisa Medicamentos, dirigida por Francisco Maximiano, são próximos e se envolveram juntos em casos suspeitos. O deputado é alvo de uma ação do Ministério Público Federal (MPF) por improbidade administrativa na qual é acusado de favorecer a empresa Global Gestão em Saúde, que tem Maximiano como um dos sócios.

“O deputado Luís Miranda acaba de declinar nesta CPI o nome do deputado Ricardo Barros. O deputado, no entanto, o declina com medo. Que tipo de governo ‘honesto’ e ‘probo’ é esse que sabe da corrupção e não faz nada?”, indagou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

“Estamos chegando perto da verdade. A CPI avança a olhos vistos e vai cumprir o papel que o Brasil espera. E quem fez algo errado que seja responsabilizado!”, disse o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

Para o relator Renan Calheiros (MDB-AL), a situação de Bolsonaro se complicou: “O presidente foi informado dos escândalos envolvendo a Covaxin em 20 de março. Prometeu acionar a PF e não o fez. O motivo foi revelado hoje à CPI. Bolsonaro disse ao deputado Luís Miranda que o líder do governo, Ricardo Barros, comandou a operação”, afirmou.

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