O impeachment de Bolsonaro é pra já, por Vanessa Grazziotin

“Novos fatos e novas denúncias surgem com muito mais força. Vem à público a corrupção no seio do governo, denúncias confirmadas desde a semana passada, com o depoimento dos irmãos Miranda, na CPI”

Foto: Nelson Almeida/AFP

Já tem algumas semanas que o tema do impeachment me move nesta coluna. Entretanto, em nenhum momento esse tema chega com tanta força como agora. Em nenhum momento essa possibilidade foi tão factível como é agora. 

Não há como tratar de outro assunto que não seja o impedimento, a abreviação do mandato de Jair Messias Bolsonaro e da luta que vem crescendo em todo o Brasil, devido, principalmente, às novas, fortes e gravíssimas denúncias de corrupção contra seu governo.

E é exatamente por isso que cresce o debate se Bolsonaro deve ou não sofrer um impeachment. Se ele deve sair agora ou sangrar até 2022.

São duas faces de uma mesma moeda. Creio que a adesão e o crescente empenho de grandes parcelas da mídia brasileira, pelo desgaste e até pelo impeachment de Bolsonaro, tem como objetivo principal evitar uma polarização eleitoral em 2022, entre Lula x Bolsonaro, e assim, abrir caminho para uma candidatura de centro ou centro direita, que sustente as teses neoliberais. 

As pesquisas mostram claramente que com Lula e Bolsonaro na disputa, dificilmente haverá espaço viável para qualquer outra candidatura, tanto que assistimos a várias desistências, como a de Luciano Huck, por exemplo.

Já do lado de Lula também muitas são as dúvidas e questionamentos. Alguns pensam se não seria o caso de deixar Bolsonaro corroer e enfrentá-lo em 2022, um candidato enfraquecido e desgastado. Mas não é bem assim que a banda toca. 

Bolsonaro dispõe de meios para trabalhar sua recuperação, pois o Estado brasileiro, mesmo em crise, é muito forte, e tem uma grande capacidade de investimentos. De forma oportunista e politiqueira ele pode manipular em seu favor recursos, programas e ações.

De nossa parte, desde já reafirmamos que o Brasil, nossa gente e nossa economia não suportam mais Bolsonaro. Não podemos mais continuar assistindo de forma passiva tantas ameaças à democracia, mais vidas perdidas e um país sendo destruído, completamente dilapidado.

A CPI da Covid-19 do Senado Federal, na busca da verdade, vem prestando um serviço significativo à nação brasileira, no sentido não só de mostrar a participação direta, e portanto a culpa, do próprio Bolsonaro em no mínimo três ações:

(a) no atraso da vacinação no Brasil, (b) na insistência do uso de medicamentos ineficazes, sem qualquer comprovação científica – o  tal “tratamento precoce” contra a covid-19 e, (c) na persistente desobediência legal em relação às medidas protetivas, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

Esses fatos por si só já são muito graves, ao ponto de justificar e dar força jurídica às mais de 120 denúncias e pedidos de abertura de impeachment.

Ocorre que novos fatos e novas denúncias surgem com muito mais força. Vem à público a corrupção no seio do governo, denúncias confirmadas desde a semana passada, com o depoimento dos irmãos Miranda, na CPI.

Notícias dão conta de um possível acerto de propina, na compra de vacinas, numa verdadeira ação criminosa coordenada pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP- PR). E o que é pior, tudo com o conhecimento do presidente. 

São denúncias gravíssimas que Bolsonaro jamais veio à público desmentir. Nada disse, nada fez. Bolsonaro se calou!

Apenas uma nota tentando “justificar” que o presidente de fato soube das denúncias, e que teria pedido ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello, que as investigasse. Já o ministro, por sua vez, disse ter encaminhado a denúncia ao então Secretário Executivo do Ministério, que hoje é assessor especial da Casa Civil da Presidência, Elcio Franco. Entretanto, nada de concreto foi feito.

Claro e provado está, portanto, que Bolsonaro sabia da corrupção e prevaricou. Prevaricação é crime de responsabilidade, que, como sabemos, pode gerar impeachment. 

Diante de intimidações de setores bolsonaristas, o deputado federal Luiz Miranda (DEM-DF) – aliado do presidente, que foi eleito quando ainda residia nos EUA e cuja vida profissional e política é marcada por inúmeras denúncias e processos judiciais – contra-ataca e ameaça fazer novas revelações capazes de “explodir a República”.  

O fato é que as novas denúncias que pesam sob Bolsonaro são gravíssimas. Possíveis crimes de corrupção que se somam a tantos outros crimes e que tornam realidade, tornam factível a possibilidade de seu impedimento. 

Ontem, juristas, partidos políticos e entidades populares de amplo espectro protocolaram um superpedido de Impeachment.

Na mesma linha de luta crescente, a manifestação popular marcada para o dia 24 de julho foi antecipada para o próximo dia três.

Essas são ações que revelam a disposição de lideranças políticas de nosso país levarem adiante a luta pelo impeachment de Bolsonaro já, o que demonstra a inequívoca responsabilidade perante o país e o povo brasileiro, pois absolutamente nada pode justificar a defesa da permanência de Bolsonaro até 2022. Nada pode justificar uma luta do “faz de conta”. 

A continuidade de Bolsonaro no poder não significa apenas a destruição do Brasil e de nosso patrimônio, ou da retirada de direitos e da destruição dos programas sociais. Significa a perda de mais vidas. E o Brasil não suporta mais tanto sofrimento e tanta desgraça. 

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