Estudo revela novo panorama epidemiológico do suicídio

Victor Alexandre Percinio Gianvecchio comenta a construção de um banco de dados que possibilita a implementação de políticas públicas de prevenção. Subnotificação e falta de detalhes dificulta compreensão da epidemia.

Políticas públicas de prevenção são direcionadas para restringir os meios utilizados pelas pessoas ao cometer suicídio – Foto: Flickr-CC

Um estudo sobre o panorama epidemiológico do suicídio inova ao construir um banco de dados a partir de Boletins de Ocorrência (BO) policial e laudos do Instituto Médico Legal (IML). Isso levou a um ganho quantitativo e qualitativo de informações, já que o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde acaba gerando subnotificação de causa básica da morte em alguns casos, como suicídio.

A pesquisa detecta a subnotificação de casos e avança no entendimento das circunstâncias do suicídio para auxiliar na implementação de políticas públicas. Este foi o resultado do etsudo de Victor Alexandre Percinio Gianvecchio, que é pesquisador em Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, e médico legista responsável pelo Laboratório de Toxicologia do IML, e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP.

“A gente buscou trazer uma informação aprimorada sobre os casos de suicídio”, afirma. Através do acesso aos dados de BOs e dos exames do IML, foi possível identificar o número de casos maior do que o registrado apenas em atestados de óbito e obter maior detalhamento sobre as condições do suicídio. Apesar disso, há cruzamentos ainda mais complexos que poderiam ser feitos para aprimorar a base de dados e garantir ainda mais precisão.

“A gente teve um ganho quantitativo e um ganho qualitativo na informação”, diz Gianvecchio, ao comentar que a pesquisa identificou 2.469 casos de suicídio em 2015 no Estado de São Paulo, 7,5% a mais do que o número oficial do SIM que era de 2.297. Além disso, ele também conseguiu diminuir em 90% o número de suicídios sem especificação de causa no SIM, que era de 53. Ficaram apenas 4 sem informação mais detalhada, devido a análise de exames necroscópicos do IML.

O professor afirma que as políticas públicas de prevenção são direcionadas para restringir os meios utilizados pelas pessoas ao cometer suicídio. Para isso, é preciso saber detalhes como faixa etária, gênero, saúde mental, ocorrências anteriores, e a própria forma escolhida para a morte, entre outros. “Conhecer detalhadamente a maneira como as pessoas fazem o ato é importantíssimo para a gente poder direcionar as políticas.”

O suicídio é um grave problema de saúde pública mundial. Na maioria dos países, incluindo o Brasil, o método mais utilizado é o enforcamento, seguido de auto-intoxicações e precipitações de lugares elevados, com uso de armas de fogo em quarto lugar. Nos EUA, essa relação se inverte com suicídios por arma de fogo em primeiro lugar, devido ao fácil acesso a elas.

Gianvecchio explica que a taxa brasileira é 6,6 a cada 100 mil habitantes, número relativamente baixo, mas que vem aumentando. No leste europeu, há taxas de mais de 50 para cada 100 mil.

A pesquisa também identificou que homens cometem três vezes mais suicídio do que mulheres e a faixa etária mais frequente é de 20 a 39 anos. Se pensar apenas em homens, a faixa etária é de idosos. Essa tendência se assemelha a outros países.

Entre as sugestões para a prevenção, o professor cita o cuidado das pessoas com transtornos mentais, que são cerca de 40% dos casos de suicídio. Tentativas anteriores apontam para um cuidado maior com essa pessoa, que passa a ter risco maior.

As precipitações de lugares elevados apontam para a necessidade de dificultar o acesso a esses locais e utilizar grades de proteção para evitar esses casos. Também é preciso tomar cuidado com o uso e acesso a bebidas alcoólicas, principalmente por pessoas com transtornos mentais como depressão. O álcool pode ser um gatilho acelerador para alguém que ainda tinha dúvidas sobre suicidar-se. A análise toxicológica aponta um alto número de pessoas que ingeriram álcool antes do incidente.

Edição de entrevista à Rádio USP

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