Bolsonaro infiltra Abin em protestos; jornalistas acusam manobra

Nomes como Ricardo Noblat e Reinaldo Azevedo detalham a atuação de agentes nas manifestações

O presidente Jair Bolsonaro orientou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) a infiltrar agentes públicos nos Atos pelo #ForaBolsonaro no último sábado (3). Embora a agência já tenha o hábito de monitorar manifestações, tudo indica que, desta vez, houve abuso de poder, motivado por razões políticas. Os atos têm ampliado, cada vez mais, as adesões a favor do impeachment do presidente.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a atuação da Abin foi intensificada no 3J, se comparada com o trabalho nos dois grandes protestos anteriores – em 29 de maio (29M) e 19 de junho (19J). O órgão orientou suas superintendências estaduais a aumentar a “frequência de atualizações dos informes ao longo do dia”, a fim de abastecer o governo Bolsonaro.

“Segundo relatos, as solicitações por mais produção partiram da direção-geral da Abin, responsável por encaminhar os relatórios para a presidência da República, e ocorrem no momento em que a oposição aumenta a realização dos atos”, informou a Folha. “Alexandre Ramagem, chefe da Abin, e o presidente ligaram os protestos a episódios de vandalismo”, a ponto de Ramagem ter dito, nas redes sociais, que os atos reuniam “criminosos disfarçados de ‘manifestantes’”.

Alguns jornalistas acusaram a manobra de Bolsonaro e detalharam os novos “procedimentos”. Conforme Ricardo Noblat, por exemplo, a Abin deslocou agentes para se infiltrarem nos atos em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. “Alguns portavam armas”, escreveu ele, que também lembrou os vínculos entre o comandante da agência e o presidente:

“A Abin é subordinada funcionalmente ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, comandado pelo general e ministro Augusto Heleno. Mas seu diretor, o delegado Alexandre Ramagem, deve o cargo a Bolsonaro e com ele despacha pessoalmente ou por telefone.

Ramagem cuidou da segurança de Bolsonaro depois da facada ocorrida em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. É amigo dos filhos do presidente da República. Nas redes sociais, avaliza tudo o que a família Bolsonaro pensa ou diz.”

Já Reinaldo Azevedo vai além. Em seu programa O É da Coisa, na Band, o jornalista falou que “há indícios de que tinham agentes infiltrados na manifestação para provocar confusão. Isso não quer dizer que não haja cretino que acabe fazendo, na prática, a apologia da violência” e, assim, “ajuda o adversário”. Essa “lógica do agente infiltrado”, segundo Azevedo, é “antiquíssima”, mas pouco conhecida.

“Você vai fazer uma manifestação – e aí pode ter agente do próprio inimigo, ou do outro lado, que dentro do seu grupo incita a violência”, disse o jornalista. De acordo com ele, os infiltrados fazem com que “as coisas fujam do controle”, provocando “um radicalizado ou um bobalhão” e caracterizando a manifestação como “violenta”.

De fato, apesar do caráter pacífico e unitário do 3J, Bolsonaro fez coro com Ramagem e tentou desqualificar os protestos. Mostrando imagens isoladas de depredações ou confrontos de manifestantes com a polícia, o presidente insinuou que os atos tinham caráter autoritário e eleitoreiro: “Lembrem-se: nunca foi por saúde ou democracia, sempre foi pelo poder!”.

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