Brasil está entre focos emergentes da fome, mostra relatório da Oxfam

Pandemia, crise climática e conflitos armados aumentaram em cinco vezes o número de pessoas com fome no mundo. No Brasil, a extrema pobreza triplicou

Foto: Agência Brasil

Novo relatório da Oxfam, divulgado na noite de ontem (8), mostra que a fome no Brasil e no mundo pode matar 11 pessoas a cada minuto até o final deste ano no planeta caso nada seja feito. O Brasil está entre os focos emergentes de fome, ao lado da Índia e da África do Sul. Essa taxa de mortalidade é maior que a da Covid-19, que é de sete por minuto. Conforme a Oxfam, as principais causas do problema são os conflitos armados, os impactos da pandemia e a crise climática.

No Brasil, há quase 20 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, da pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan). E a extrema pobreza quase triplicou, passando de 4,5% da população para 12,8%.

Como afirma a organização, o auxílio emergencial instituído pelo governo foi garantido para 38 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade. E deixou dezenas de milhões de pessoas sem uma renda mínima. “A pandemia de covid-19 escancarou as desigualdades brasileiras e trouxe essa emergência da fome a milhões de pessoas no país”, disse Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Vivemos uma situação catastrófica porque há uma negligência sem tamanho com a vida das brasileiras e brasileiros, que estão sem vacinas, sem ter o que comer, sem emprego e sem renda.”

O vírus da fome

Segundo o relatório O Vírus da Fome se Multiplica, o número de pessoas vivendo em situação de fome estrutural aumentou cinco vezes desde o início da pandemia, chegando a mais de 520 mil. E mais 20 milhões de pessoas foram empurradas em 2021 a níveis extremos de insegurança alimentar. Com isso, o total é de 155 milhões em 55 países.

Os conflitos armados foram a maior causa de fome desde o início da pandemia e principal fator que levou quase 100 milhões de pessoas, em 23 países, a níveis de crise alimentar. A fome também se intensificou em países de renda média como Brasil, Índia e África do Sul, que também têm sido duramente afetados pela pandemia de covid-19.

O novo relatório também descreve o grande impacto que a crise econômica global, intensificada com a pandemia. Desemprego em alta e produção de alimentos em baixa levaram a aumentos de 40% nos preços globais da comida. É o maior aumento em mais de uma década.

Conflitos armados e violência

Apesar de todos os problemas provocados pela pandemia, o gasto militar global aumento em US$ 51 bilhões – o suficiente para cobrir em seis vezes e meia o apelo humanitário feito pelas Nações Unidas para acabar com a fome no mundo. Enquanto isso, os conflitos armados e a violência provocaram o deslocamento recorde de pessoas globalmente, forçando 48 milhões de pessoas a fugirem de suas casas até o final de 2020.

Para Gabriela Bucher, diretora executiva da Oxfam, trabalhadores informais, mulheres, pessoas deslocadas e grupos marginalizados estão entre os mais atingidos pelos conflitos armados e fome. “Mulheres e meninas estão entre as mais afetadas, frequentemente comendo por ultimo e comendo menos. Elas enfrentam escolhas impossíveis, como ter que escolher entre ir até o mercado e arriscar ser abusada física e sexualmente ou ver suas famílias ficarem com fome.”

Para a organização, os governos têm que parar com os conflitos armados, que contribuem significativamente para aumentar a fome no mundo, e colaborar com as agências de ajuda humanitária a alcançar aqueles que precisam de apoio. E os países mais ricos têm de atender imediatamente os apelos humanitários da ONU para salvar vidas. O Conselho de Segurança da ONU, por sua vez, precisa punir todos os países que usam a fome como arma de guerra.

Por isso, a Oxfam defende um cessar-fogo global para acabar com os conflitos armados pelo mundo. Além de vacina para todos e a construção de sistemas de produção de alimentos mais justos e sustentáveis. A organização pede ainda apoio a programas de proteção social para as pessoas em situação de vulnerabilidade.

Fonte: Rede Brasil Atual