Morre Jaime Sautchuk, jornalista, escritor e ambientalista

Sautchuck trabalhou em diversos veículos de comunicação, foi um dos pioneiros da luta ambiental e era muito respeitado por sua notável inteligência.

Jaime Sautchuck faleceu no início da tarde desta quarta-feira (14), em Brasília, devido a complicações renais. Com saúde debilitada, diariamente era submetido a sessões de hemodiálise e também tinha problemas cardíacos. Deixa dois filhos e uma filha do primeiro casamento com a jornalista Vera Lúcia Manzolillo.

Catarinense de Joaçaba, tinha 67 anos e virou goiano por adoção, Jaime Sautchuk morava e Cristalina (GO), onde mantinha uma reserva ambiental denominada Linda Serra dos Topázios. Foi pioneiro, em Brasília, no movimento pela preservação da Amazônia e do Cerrado. Como jornalista, trabalhou na BBC de Londres, nos jornais alternativos Opinião e Movimento, em O Globo, Estadão, Folha, Veja e Diário da Manhã. Foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a contar a história da Guerrilha do Araguaia.

Como escritor, foi autor de vários livros, entre eles, Projeto Jari – Invasão Americana, A Luta Armada no Brasil entre os Anos 60 e 70, A UNE contra o SNI, Mitaí, Cruls, O Causo eu Conto, Antologia Profética, sendo o último uma biografia do escritor goiano Bernardo Élis. Na área de cinema, criou o Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), na Cidade de Goiás.

Notável inteligência

Jaime Sautchuck militante do PCdoB do Distrito Federal, sendo seu dirigente do durante a década de 1980 quando participou da reorganização do partido na capital do país. Segundo a Thâmar de Castro, que militou com ele, “Em 1982, Jaime dirigiu no DF as campanhas comunistas para deputado federal, em especial a campanha do deputado do Bloco Popular do PMDB de Goiás, Aldo Arantes e articulou e dirigiu a vitoriosa campanha para a prefeitura de Brasilinha (Planaltina de Goiás). Em 1986 novamente foi o coordenador da campanha do nosso partido, a famosa campanha do 1566” Thâmar acrescenta ainda que “Jaime assessorou com brilhantismo nossa aguerrida bancada na Assembleia Constituinte de 1987/88. E permaneceu ligado ao nosso partido e seu ideário até o fim”.

A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, manifestou tristeza pelo falecimento de Jaime Saltchuk, “jornalista, de grande reputação profissional, escritor e ambientalista”. Para a dirigente comunista “o Brasil perdeu uma notável inteligência, uma destacada personalidade progressista e um militante da causa socialista”. Luciana destacou ainda o fato de Sautchuck ter sido um dos pioneiros a publicar na imprensa brasileira textos sobre a Guerrilha do Araguaia, luta de resistência à ditadura dirigida pelo PCdoB. “Expressamos nossas condolências aos seus familiares, amigos e amigas”, finalizou ela.

O PCdoB/DF manifestou pesar e solidariedade à família de Jaime Sautchuk, definido como “um jornalista corajoso e firme” e que “lutou nos últimos tempos contra os arbítrios do governo Bolsonaro e também contra graves problemas de saúde”. A nota dos comunistas do DF finaliza afirmando que “vivemos tristes tempos em que perdemos tantos amigos e amigas, mas o legado de Jaime permanece”.

Além do jornalismo e dos livros, Jaime Sautchuck também foi articulista publicado por vários veículos de comunicação, dentre eles o Portal Vermelho. Em seu último artigo no Vermelho publicado há exatos três meses e intitulado “Bolsonaro e a necropolítica”, Jaime afirmou: “ Aos que foram infectados e não morreram, o atual presidente da República diz que foi seu governo que os salvou – e sobre os que morrem, diz que a responsabilidade é dos governadores e prefeitos. Joga com as vítimas da doença com finalidades políticas, sem se preocupar com salvar vidas humanas que estão escorrendo de modo crescente por entre a inoperância de seu governo”.

O editor do Vermelho, Inácio Carvalho, lamentou a morte do jornalista e destacou que “em cerca de 300 artigos publicados no portal, Jaime Sautchuck abordou temas como política nacional e internacional, cultura, futebol e meio ambiente, seu assunto predileto, sempre com um olhar progressista e desafiador, com um estilo delicioso”. Carvalho recorda que conheceu inicialmente o trabalho de Jaime sobre a Amazônia e depois o jornalista escreveu, em 1987, o livro A UNE contra o SNI, que relata a luta dos estudantes cearenses contra a espionagem na Universidade Federal do Ceará. “Ao assumir a editoria geral do Vermelho, em 2015, foi uma alegria falar com Jaime e relembrar com ele aquela batalha estudantil contra o entulho autoritário do regime militar”.

Autor