Pronunciamento de ministro da Educação gera reação a contradições

Ênfase em retorno às aulas sem vacinação gerou críticas generalizadas na internet. Ministro é acusado de ausente, negacionista e descaso com as mortes de profissionais da educação.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, “convocou” alunos e profissionais da área para voltarem às aulas presenciais. Em pronunciamento, ele defendeu que manter escolas fechadas traz consequências “devastadoras”, impactando negativamente os mais jovens. Ecoando o negacionismo do presidente Bolsonaro, o ministro gerou reações a seu discurso nas redes sociais, pelas contradições que expôs no discurso.

“Quero conclamá-los ao retorno às aulas presenciais. O Brasil não pode continuar com as escolas fechadas, gerando impactos negativos nesta e nas futuras gerações. Não devemos privar nossos filhos do aprendizado necessário para a formação acadêmica e profissional deles. Estudos (…) apontam que o fechamento de escolas traz consequências devastadoras”, disse Ribeiro em rede nacional de rádio e televisão.

O ministro também culpou estados e municípios pelo fechamento das escolas, reforçando que o governo federal não tem poder de decisão sobre o tema. Se dependesse do MEC, completou, todas as escolas já teriam sido reabertas.

“O Ministério da Educação não pode determinar o retorno presencial das aulas, caso contrário eu já teria determinado. Mas não é um retorno a qualquer preço, que isso fique bem claro. Fornecemos protocolos de biossegurança sanitários a todas as escolas, tanto da educação básica quanto do ensino superior”.

Ao final, ao dirigir-se aos estudantes, aos pais e mães e aos profissionais de educação, Ribeiro disse que a volta às aulas presenciais é uma “necessidade urgente” e defendeu que a vacinação, única maneira de conter, de fato, a pandemia, não pode ser condicionante para a reabertura das escolas.

“A vacinação é importante e eu, pessoalmente, solicitei ao senhor ministro da Saúde [Marcelo Queiroga] a priorização de todos os profissionais da educação básica, os quais já estão sendo vacinados. Entretanto, a vacinação de toda a comunidade escolar não pode ser condição para a reabertura das escolas. (…) Precisamos enfrentar juntos os desafios impostos pela pandemia”, concluiu.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) foi quem mais comentou cada declaração do ministro, em tempo real. A entidade estudantil critico Ribeiro por culpar os prefeitos pela falta de aulas, enquanto o governo federal não garantiu vacinação ou verbas para as escolas poderem voltar com segurança.

Segundo a entidade, o ministro trata o fechamento das escolas como um capricho, diante da morte diária de mais de mil brasileiros por covid. Também ironiza, como a maioria dos perfis da internet, a ausência do ministro, pouco conhecido de todos, ao dizer que, “já que resolveu aparecer”, poderia falar de outras medidas para educação que estão abandonadas.

O músico carioca Marcelo D2 também se mostrou indignado com o fato do ministro se apresentar como mais um propagador ideológico de Bolsonaro, em vez de gerir a educação. O modo como o ministro omitiu toda a gestão desastrosa da pandemia para culpar outros pela falta de aulas, foi o principal motivo de ataques nas redes sociais.

Outro negacionismo enfatizado por lideranças políticas, foi o fato do ministro dizer que a vacinação não pode ser pré-requisito para a volta às aulas. Entidades representativas dos profissionais de educação têm insistido em garantir, ao menos, sua imunização, na medida em que foram muito atingidos pela doença. Prefeituras e governos estaduais estão tentando priorizar a educação para garantir o retorno. Com essa declaração, o ministro demonstra o mesmo descaso com as vidas dessas pessoas, que o presidente Bolsonaro enfatizou durante toda a pandemia.

Veja abaixo as reações: